Suspeito de envenenar família no PI se dizia nazista e tinha livros e DVDs
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Apontado como o autor de envenenamentos que mataram sete pessoas de uma família em Parnaíba (PI), Francisco de Assis Pereira da Costa, 53, tinha uma profunda admiração pelo nazismo, que inclusive o teria inspirado no método para matar pessoas.
A descoberta da polícia foi feita após uma busca e apreensão em uma pequena casa que Francisco mantinha fechada. "Ele levava consigo a chave em um tipo de colar no pescoço para não ter perigo de ninguém pegar. Só ele tinha acesso", conta o delegado Abimael Silva, que comandou a apuração dos casos.
No local, a polícia encontrou vídeos e livros de nazismo, mas um deles chamou a atenção. A obra "Médicos Malditos", de Christian Bernadac, relata os experimentos cruéis e antiéticos praticados durante o período da Alemanha nazista.

Após olhar mais atento, a polícia percebeu que não se tratava apenas de um interesse comum pelo tema. No livro havia grifos de substâncias que os médicos utilizavam na época para matar pessoas, entre outras marcações.
"Entre as frases grifadas, uma chamou muita atenção: ela dizia que, para despistar as vítimas, o veneno deveria ser sem gosto e cheiro. Foi a mesma característica do terbufós", afirma o delegado, citando o pesticida utilizado nas sete mortes em que Francisco é suspeito.
Além dos livros e DVDs, a polícia ainda ouviu testemunhas, entre amigos e pessoas que trabalharam com Francisco em momentos diferentes, que relataram que ele "se declarava nazista e anticristo".
A gente percebe que as declarações dele também são extremamente racistas, em relação aos filhos da companheira, chamando-os de 'primatas', de tribo de 'índios', de 'sem cultura'.
Abimael Silva
Em depoimento, Francisco negou que tenha admiração pelo nazismo e diz que apenas era um "curioso".
Mas se você falar meia hora, ele lhe conta a história todinha de Hitler, da Segunda Guerra, de como foi o terceiro Reich. E ele gosta, se empolga quando está falando.
Abimael Silva

Depoimentos conflitantes
Segundo o delegado, Francisco prestou quatro depoimentos à polícia, e nenhum foi igual a outro. "Em todos ele mudou a versão de vários fatos, de horários, do que ele fez e não fez. Sempre teve a intenção de se excluir de uma suspeição e de excluir Maria [esposa dele]."
A grande revelação recente da história é a indicação da participação da esposa, Maria dos Aflitos, nos crimes. Ela era mãe e avó das vítimas. "Maria também sempre alterou e omitiu fatos e apresentou diversas contradições, também sempre excluindo o Francisco da cena do crime", diz Abimael.
Maria foi presa na semana passada, e em depoimento confessou ter envenenado o café para matar a vizinha Maria Jocilene da Silva, no último dia 20.
O objetivo dela, segundo contou à polícia, seria simular um suicídio da vizinha com o mesmo veneno para, assim, jogar a culpa nela e tirar Francisco da cadeia.
A ideia, porém, deu errado imediatamente após a morte de Jocilene: Maria "se incriminou" em conversa com os primeiros policiais que foram até o local, diz o delegado, ao dizer categoricamente que "não foi envenenamento, foi um infarto". "Isso levantou suspeita de imediato, e aqui ela confessou", diz Abimael.

Casal tentou incriminar vizinha e casal que doou peixe
Além da denúncia pelos feminicídios e homicídios qualificados, Francisco e Maria ainda vão ser indiciados por denúncia caluniosa contra a vizinha, Lucélia Maria. Em agosto de 2024 a mulher foi apontada pelo casal como a autora da morte de duas crianças [netos de Maria], após supostamente dar cajus envenenados a eles, versão que agora foi refutada.
A morte das crianças teve grande repercussão à época na cidade, e pessoas queimaram a casa da suspeita em retaliação. Lucélia ficou presa por cinco meses, até que as mortes do envenenamento no Réveillon causaram uma reviravolta no caso e mudaram o foco da polícia.
Após novas investigações do caso, a polícia descobriu que o veneno foi colocado por Francisco junto a um suco em pó que os meninos tomaram no dia 20 de agosto de 2024. Os dois passaram mal, foram socorridos, mas não resistiram. O veneno usado foi o mesmo dos outros dois eventos.
A mesma tática de incriminação foi tentada no Réveillon, quando o casal tentou culpar um casal que doou peixes na comunidade. Entretanto, a apuração apontou que não havia veneno no alimento, mas sim no prato baião de dois, preparado na noite da virada de ano e envenenado por Francisco.

Para a polícia, os crimes estão esclarecidos e foram motivados pelo ódio que Francisco nutria pelos filhos de Maria. "Os dois sempre foram muito frios", diz o delegado.
Maria disse que os dois queriam, ao fim, ficar sós. Francisco demonstrou que não gostava dos filhos dela. A ideia era exterminar todos, só não morreu envenenado quem não estava em casa no dia 1º de janeiro e uma filha dela que chegou atrasada e não escolheu o arroz, escolheu o feijão-tropeiro e o peixe. Escaparam por trivialidade.
Abimael Silva
Por serem casos conexos, o MPPI (Ministério Público do Piauí) deve ofertar uma só denúncia para levar os dois a júri popular.
O UOL tentou contato com o advogado de Francisco, mas ele não respondeu às mensagens. À polícia, ele se diz inocente dos crimes. A coluna não conseguiu identificar o advogado de Maria. Em depoimento, ela assumiu a culpa pela morte da vizinha, mas diz que foi o marido Francisco quem cometeu as outras sete.
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