CE: Cid Gomes 'rouba' deputados do PDT de Ciro com filiação em massa ao PSB

Deputados estaduais do Ceará que conseguiram na Justiça o direito de sair do PDT sem perda de mandato vão se filiar nesta sexta-feira (7) ao PSB, em um ato que ratifica a "vitória" política de Cid Gomes (PSB) no racha com o irmão Ciro Gomes. Com isso, o PDT deixa de ter a maior bancada legislativa e vê o partido de Cid tomar o posto.
O ato político está marcado para às 11h na sede da Alece (Assembleia Legislativa do Ceará) e terá a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira.
Até esta quinta-feira (6), o número de deputados que vão assinar a ficha de filiação ao novo partido era dado como incerto, mas acredita-se que o total deva chegar perto de dez.
"Estamos trabalhando para isso, mas não temos o total porque estamos em conversas ainda", disse à coluna o deputado Marcos Sobreira, um dos que se filiará ao PSB.
Entre os nomes certos que vão assinar a filiação estão o do atual presidente da Alece, Romeu Aldigueri, e o da deputada Lia Gomes, irmã de Cid e Ciro Gomes. Outro irmão político, o ex-prefeito de Sobral Ivo Gomes, já havia aderido ao grupo de Cid e se filiado ao PSB.
Cid avisou, por meio de sua assessoria, que não iria falar com a imprensa antes do ato de filiação. Ele vai conversar com os jornalistas em uma entrevista coletiva marcada para após as assinaturas.

Maior bancada
O PSB, que hoje não tem nenhum deputado estadual no Ceará, se tornará a maior bancada da Alece, segundo Sobreira. Dos 13 deputados que o PDT tinha com sua maior bancada, ele diz que apenas três vão ficar.
Vamos começar uma nova história, com nossos aliados prefeitos e vereadores que já foram candidatos em 2024 pelo PSB. Nós já temos o maior número de prefeitos [66] e vereadores [492] e garanto que vamos ter a maior bancada [da Alece].
Marcos Sobreira, deputado estadual
Judicialização da saída
Ainda em 2023, um grupo de 14 deputados estaduais anunciou que sairia do partido alegando divergências internas no PDT cearense depois das eleições de 2022.
Em fevereiro de 2024, Cid Gomes se filiou ao PSB (cargo de senador não tem necessidade de fidelidade partidária) e ratificou o rompimento. Nessa época, os deputados pedetistas buscaram a Justiça Eleitoral para pedir a saída do PDT sem perda de mandato.
Em abril de 2024, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) deu ganho de causa por sete votos a zero para eles, sob alegação de que houve "grave discriminação política" contra os parlamentares.
O PDT recorreu, mas a decisão foi confirmada pelo TSE em novembro do ano passado.
Segundo Marcos Sobreira, a saída do grupo tem relação com a liderança de Cid e problemas internos do PDT após as eleições de 2022.
Naquele ano, o partido rachou localmente: a maior parte aprovou a candidatura ao governo de Roberto Claudio (PDT), enquanto outro queria a tentativa de reeleição de Izolda Cela, hoje no PSB, mas que era do PDT. Sobreira nega que saída em massa agora seja motivada por conflito com Ciro.
O que a gente queria era que um grupo coordenasse os debates das campanhas municipais, e que esse grupo ficasse na liderança do senador Cid. Não houve acerto, e o senador saiu antes, e agora vamos seguir juntos de novo.
Marcos Sobreira

Procurada pela coluna para comentar a saída dos correligeonários, a assessoria do presidente do PDT no Ceará, o deputado federal André Figueiredo, não respondeu. O espaço segue aberto.
Apesar das rusgas que Cid teve com o governador Elmano de Freitas (PT), e que chegou a ensaiar um racha, os dois se reaproximaram e o PSB segue na base do petista na Assembleia.
O maior projeto do PSB para 2026 é reeleger Cid ao Senado, com apoio ao nome de Elmano para o governo e o de Lula para a Presidência.
Ascensão de Camilo
O racha da família Gomes resultou no declínio do poder do clã. No vácuo deixado, houve a ascensão do ministro da Educação e ex-governador do estado, Camilo Santana (PT).
O PSB, ao qual Cid se filiou em fevereiro, foi o partido que mais fez prefeitos no estado e estava desde o primeiro turno na coligação com Evandro Leitão (PT), eleito em Fortaleza.

Já o PDT, sob influência de Ciro, deixou o posto de campeão de prefeitos no Ceará nas eleições de 2020 para se tornar um nanico: fez só cinco prefeitos em 2024, nenhum deles em cidades com 20 mil ou mais habitantes. Para efeito de comparação, quando os irmãos eram unidos, o partido elegeu 28 prefeitos em 2016 e 66 em 2020.
Em Fortaleza, capital que o PDT governa havia quase 12 anos, o partido teve uma votação pífia. Com apoio de Ciro e seus aliados, o prefeito e candidato à reeleição, José Sarto, ficou apenas na terceira colocação, com 11,7% dos votos válidos.
Segundo a cientista política Monalisa Torres, da Uece (Universidade Estadual do Ceará), parte do bom resultado de Cid sob Ciro tem explicação na definição histórica de funções de cada um dos irmãos na política.
"Apesar da projeção nacional do Ciro, quem fazia a função de articulação no estado, em contato direto com as lideranças aqui, era o Cid. Ele é quem tem força no estado", diz.
Ela afirma que Cid mostrou sua força no interior ao se filiar ao PSB e levar consigo boa parte dos prefeitos que eram aliados da família. Logo após Cid deixar o PDT e ir para o PSB, em fevereiro, o novo partido do senador passou a contar com 61 prefeitos no estado, e o PDT caiu para 27.
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