Polícia fez caçada de 4 meses e prendeu pediatra acusado de abusar crianças
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Preso na última sexta-feira em um flat em Paulista (Região Metropolitana do Recife), o pediatra Fernando Cunha Lima, 81, era um dos homens mais procurados havia 4 meses.
Desde o dia 5 de novembro de 2024, ele tem mandado de prisão preventiva expedido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba e era procurado, mas usou de várias táticas para se manter longe da cadeia.
O médico é acusado pelo MP-PB de abusar de seis crianças em seu consultório, em João Pessoa. Cinco dessas vítimas eram meninas. Uma delas teria sido abusada duas vezes, o que resultou em 7 casos alegados de estupro de vulnerável em duas denúncias já apresentadas pelos promotores.
As denúncias contra Fernando começaram a estourar em julho do ano passado, e até uma sobrinha dele disse ter sido vítima dele em 1991 —nesse caso, o crime prescreveu. O caso chocou a sociedade paraibana, já que ele era um dos pediatras mais respeitados e integrante de uma família bem influente na política paraibana.
Fernando nega todas as denúncias e tenta, na justiça, converter sua prisão preventiva em domiciliar alegando idade avançada e problemas de saúde. Ele está detido no presídio do Cotel, em Abreu e Lima, também na Grande Recife.
Burla da polícia
Para chegar até Fernando, a Polícia Civil precisou atuar em várias frentes e enfrentou dificuldades impostas pela rede de apoio que o pediatra teve. Primeiramente, ele se escondeu na casa de uma filha, no Recife, onde ficou até o final do ano passado.
A polícia chegou a ir lá em dezembro, mas Fernando tinha fugido para Paulista cerca de uma semana antes.
Na cidade vizinha, ele ficou primeiramente em uma casa de um bairro de classe média/baixa. Pouco depois, no início deste ano, se mudou para um flat a 3 quarteirões da praia do Janga, onde foi detido.
"Era um apartamento pequeno, mas de boas condições", diz o delegado da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado) Rafael Bianchi, responsável pela investigação e prisão de Fernando.
Rafael foi designado para buscar o paradeiro de Fernando em janeiro, e nesse período, conta que passou noites de campana com a equipe em Pernambuco.
Segundo o delegado, Fernando deixou João Pessoa logo depois do depoimento em outubro de 2024. Uma das dificuldades para encontrar o local exato onde ele estava era que Fernando não saia do flat.
No começo, alguns colaboradores nos informaram que ele foi visto em pontos comerciais, mas depois nunca mais foi visto. Quem era visto constantemente era a esposa. Mas agora no ano 2025, essas idas ao comércio foram reduzidas devido ao medo de ele ser identificado e localizado.
Rafael Bianchi
Rede de apoio
Durante esse período, a polícia diz que ele contou com uma rede de apoio, que envolveu a ajuda de ao menos três pessoas, que faziam para ele as compras de alimentos e remédios, por exemplo. Elas foram identificadas e vão ser investigadas por crime de facilitação pessoal.
Um detalhe chamou a atenção dos policiais: o uso do seu CPF em locais distantes de onde estava escondido.
"Ele estava colocando a polícia para andar, passando CPF para 'A' e 'B' para efetivar compras em alguns locais, para dar ideia que não estava lá. Ou seja, ele tinha instrução de como burlar a polícia; e havia também um poderio econômico e estrutura para burlar o aparato de justiça", diz o delegado-geral da Polícia Civil, André Rabelo.
Para ele, a prisão de Fernando é um marco importante contra a impunidade —a polícia estava sendo cobrada nos últimos dias pela falta de respostas ao caso.
A gente em nenhum momento deixou de procurar. Esse caso é de simbolismo muito grande por tudo que ele representa à sociedade.
André Rabelo

Pediatra nega crimes
Fernando Cunha Lima nega que tenha abusado de pacientes. "Tenho 55 anos de medicina, mais de 20 mil atendidos, por que só com dois ou três eu fiz isso?" Questionou, acusando a sobrinha que também o denuncia de ser "a maior mentirosa."
A fala dele foi dada na chegada à sede da Polícia Civil em João Pessoa, na sexta-feira, quando ele também disse que deixou a Paraíba por orientação dos advogados e afirmou que não acreditava que ficaria preso por muito tempo. "Com a minha doença, eu não vou ficar preso. Tenho certeza de que vou ficar só dois dias", disse.
No mesmo dia, após prestar depoimento, voltou para Pernambuco para passar por audiência de custódia (a audiência tem de ocorrer no estado da prisão). A Justiça confirmou a legalidade e manteve a prisão preventiva.
A defesa do pediatra recorre da detenção em presídio. O caso está com a 4ª Vara Criminal de João Pessoa.
"Nós estamos pedindo, desde o dia 21 de fevereiro, que ele fosse para prisão domiciliar; caso negado, que ele ficasse cumprindo no Recife. Estamos aguardando", afirma o advogado Aécio Farias.
Para o promotor Bruno Lins, a posição do MP-PB é que o pedido da defesa deve ser negado.
Não há nenhuma garantia que permanecerá em domicílio, e ele já mostrou total descaso com aplicação da lei penal. Por isso entendemos que deve ser mantida a prisão.
Bruno Lins

Famílias "aliviadas"
Segundo o advogado das vítimas, Bruno Pontes Girão, a prisão de Fernando trouxe "alegria e alívio" às famílias que o denunciaram.
Desde o início das denúncias, o estado de liberdade do réu trouxe muita insegurança a essas vítimas. Durante a instrução, o réu chegou a fazer ligações para buscar contato com a mãe da vítima que fez a primeira denúncia --o que configura uma ameaça velada.
Bruno Pontes Girão
Nesta segunda-feira, Girão deu entrada em um pedido judicial para que o pediatra cumpra a prisão na Paraíba, e não em Pernambuco, como quer sua defesa.
"Pedimos isso porque existe um segundo processo, e ele precisa ser citado e participar das audiências da instrução processual. Será mais fácil a condução desse processo se ele estiver aqui, evitando dificuldades e postergação. Não vamos parar enquanto não estiver condenado e cumprindo a pena", afirma.
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