Carlos Madeiro

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Marido de blogueira morta vira suspeito após chamar polícia e não socorro

A Polícia Civil do Maranhão apurou que uma série de fatos causaram "estranheza" e acabaram colocando Valdiley Paixão Campos, 38, marido da blogueira Adriana Rosa de Oliveira, 27, como principal suspeito do crime ocorrido no sábado, na casa onde eles moravam em Santa Luzia (MA).

Segundo o delegado Alison Guimarães, um dos detalhes que mais chamou a atenção foi a reação de Valdiley após a esposa ser baleada. "Quando o crime aconteceu, o marido não prestou socorro, não ligou para o hospital, só se preocupou em acionar a polícia", diz.

Na versão apresentada à polícia, o marido disse que um homem chegou em uma motocicleta, invadiu a casa à procura de Adriana e teria feito os disparos. Valniley teria, em seguida, ligado para a polícia para informar o crime. Ao chegar, os policiais viram que ela já estava morta após levar três tiros.

Valniley e o pai, Antonio Silva Campos, foram presos ainda no domingo, e nesta segunda-feira tiveram a prisão preventiva decretada pela 2ª Vara da Comarca de Santa Luzia.

Vários pontos da dinâmica do crime não batem com o que ele falou. A gente foi juntando um quebra-cabeça, que começou com os áudios da vítima [que foram mandados à irmã citando medo do sogro].
Alison Guimarães

Os áudios citados foram os que Adriana mandou pelo WhatsApp para irmã, dizendo que o sogro estaria "vigiando" a casa dela poucos dias antes da morte (ouça abaixo).

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Mais detalhes intrigam polícia

Esses dois pontos foram apenas parte da história que a polícia descobriria em seguida.

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Quando a gente olhou as câmeras, não encontramos nenhuma com imagem de motoqueiro, que teria sido o autor do crime. O portão da casa sempre ficava fechado, e dessa vez [vizinhos] viram que o portão estava aberto no horário do crime. A gente foi juntando tudo isso para decidir prender os dois em flagrante.
Alison Guimarães

Cortejo do corpo de Adriana Rosa de Oliveira lotou ruas de Santa Luzia (MA)
Cortejo do corpo de Adriana Rosa de Oliveira lotou ruas de Santa Luzia (MA) Imagem: Reprodução

Segundo o delegado, o sogro não estava na casa no momento do crime, mas sua participação no assassinato é investigada devido à perseguição que ele estaria fazendo, como citou a vítima em dias anteriores.

"Apesar de não estar, há várias formas de participação, de coautoria. Ele pode ser responsável de várias formas, e pelos áudios vimos que ele tem ligação e pode ter participado do planejamento com o filho", diz.

'Foi feminicídio', acredita delegado

Pelo que já foi apurado, o caso está sendo tratado como feminicídio. "Entendemos que envolve um tipo de violência pelo menosprezo à condição de mulher. A gente trabalha com essa linha principal de investigação, mas seguimos apurando", diz o delegado.

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Adriana e Valdiley viviam juntos em uma união estável havia seis anos. Ela tinha um filho de 5 anos, fruto de outro relacionamento anterior.

Agora, a polícia tenta entender o que teria motivado o crime. "Estão chegando outras informações, mas eles não tinham registro de violência, agressões entre eles. Não temos certeza sobre o que teria motivado um desentendimento, a gente tá checando", conta.

Na chegada à delegacia da cidade, no domingo, o marido se limitou a dizer que não foi ele quem matou. Antônio não quis falar. A defesa dos custodiados pela morte de Adriana Oliveira lamenta profundamente as acusações precipitadas. O advogado Irandy Garcia, que representa os dois, emitiu uma nota em que ressalta a necessidade de que a polícia siga na busca pelo verdadeiro atirador e explore todas as linhas de investigação, especialmente aquelas relacionadas às possíveis rotas de fuga utilizadas pelo motoqueiro. O advogado "lamenta o uso indevido das imagens oficiais do corpo da vítima, que ficaram disponíveis antes da decretação do sigilo. E alerta sobre vídeos falsos que circulam nas redes sociais sobre o caso, que fomentam as distorções da realidade e prejudicam a correta apuração do caso."

A defesa reitera que vai provar a inocência dos acusados e repudia veementemente a narrativa de uma suposta relação conturbada entre o casal. A defesa segue aguardando os laudos periciais dos telefones, fundamentais para esclarecer os fatos. Irandy Garcia, advogado

Influenciadora Adriana Rosa de Oliveira
Influenciadora Adriana Rosa de Oliveira Imagem: Reprodução

Quem era a blogueira

Adriana tinha 37 mil seguidores no Instagram e era conhecida por fazer vídeos divertidos em suas redes sociais e com seu filho de 5 anos — por isso se tornou uma pessoa conhecida e querida na cidade.

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O crime revoltou os moradores da cidade de 38 mil habitantes, que fizeram protesto e participaram em peso do cortejo e enterro realizados neste domingo.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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