AC: Facção mata mãe após fake news de que ela matou bebê; ossada era de cão
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Uma mulher foi assassinada na tarde desta segunda-feira após ser espancada por um grupo de pessoas no conjunto habitacional Cidade do Povo, em Rio Branco. Yara Paulino da Silva, 27, foi acusada de ter matado e enterrado o corpo da filha, uma bebê de 2 meses de vida. A "prova" disso seria que a ossada da criança foi achada próxima a casa dela.
Entretanto, a informação era uma fake news: após uma perícia técnico-científica da polícia e do IML (Instituto Médico Legal), descobriu-se que a ossada, na verdade, era de um cachorro e nada tinha a ver com a bebê.
Inicialmente, a informação que circulou é que o linchamento dela teria sido praticado por populares revoltados com o suposto assassinato e ocultação do corpo do bebê. Mas a polícia descobriu que o assassinato foi praticado por membros de uma facção criminosa, a Bonde dos 13, que fizeram um "tribunal do crime" para julgá-la e decidiram matá-la. Esse grupo detém o controle da comunidade onde ela vivia.
"Testemunhas apontaram que, logo no primeiro momento, [os faccionados] começaram a fazer as inquirições ainda na casa da vítima. Ela então foge da casa, mas é apanhada em seguida e, ali no meio da rua, o crime é praticado", explicou o delegado Leonardo Ribeiro, do DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), em entrevista coletiva nesta terça. "A gente já tem alguns suspeitos", completou.
Para o delegado, a fake news rapidamente disseminada é apontada como a motivação do crime.
Por isso a gente precisa ter cautela [ao publicar algo] porque às vezes a divulgação de forma açodada faz ocorrer algo, como aconteceu ontem. Só o fato de terem achado [que Yara teria matado o bebê] causou a morte da vítima.
Delegado Leonardo Ribeiro
Yara deixou, além da bebê que está desaparecida, outros dois filhos, de 2 e 10 anos, que foram levados para casa de uma irmã da vítima.
Entenda a disseminação da fake
Tudo começou após moradores do conjunto terem achado, nesta segunda-feira, um saco com supostos restos mortais humanos. A vizinhos, Yara tinha dito que a bebê tinha sido levado pelo pai —seu ex-marido, de quem se havia se separado no começo do mês.

Rapidamente, a notícia de que ossada seria da bebê se espalhou na comunidade e em grupos de WhatsApp e chegou até a páginas de notícias, que publicaram notas afirmando se tratar dos restos mortais da filha de Yara —e alguns já culparam a mãe pela morte.
"Quando acharam essa ossada, acreditaram que seria da criança porque ela foi encontrada nas proximidades da casa da vítima. Ela acabou sendo espancada até a morte por ter, teoricamente, sido a autora desse homicídio", explica o delegado Alcino Ferreira de Souza Júnior, também da DHPP.
A polícia foi acionada apenas quando Yara já estava sem vida no meio da rua Dom Próspero Bernardi. O delegado diz que trabalha com a hipótese de crime de tortura com resultado morte.
E a bebê?
Segundo a polícia, a bebê agora está sendo procurada. "A notícia que temos é que essa criança teria sido raptada há cerca de três semanas pelo pai; mas já ouvimos ele, que nega e diz que foi a mãe que teria desaparecido com a bebê e que ele estaria, inclusive, preocupado", diz o delegado Alcino Ferreira.
No caso, o pai da bebê afirmou que estava separado de Yara havia cerca de três semanas.
Para a polícia, um detalhe intrigou: esse suposto sequestro ou desaparecimento não foi informado às autoridades. "Não havia nenhum registro da ocorrência desse caso. Não é normal que pais que tenham filhos desaparecidos não busquem informar à polícia", afirma o delegado.
Outro ponto que chamou a atenção da polícia é que o bebê não foi registrado em cartório e não tem até hoje certidão de nascimento." Pelo que o pai contou, ela teria cerca de 2 a 3 meses de vida".
Ainda de acordo com a polícia, esse caso agora está sendo apurado com desaparecimento de menor.
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