Em áudio, advogado preso por agressão ataca mulher por 'andar como puta'
Ler resumo da notícia
Um áudio enviado pelo advogado João Neto, preso por agressão em Maceió no último dia 14, mostra que ele já havia a mandado a sua companheira sair de casa, além de a tratar com ofensas machistas. A mensagem consta no inquérito policial finalizado nesta quarta-feira e que, segundo a polícia, ajudou a atestar as práticas de violência doméstica.
João Neto foi indiciado por "lesão corporal praticada contra a mulher por razão da condição do sexo feminino" e está preso desde o dia da agressão. O áudio citado acima é apenas um dos que a vítima denunciou e foram inclusos no relatório enviado ao MP-AL (Ministério Público de Alagoas), que vai decidir se denuncia ou não o suspeito.
O UOL teve acesso ao áudio, que tem pouco mais de um minuto. Segundo a advogada Júlia Nunes, que defende a vítima, ele foi enviado por João no 24 de março pelo WhatsApp. A vítima é a mulher de 25 anos que conviveu em união estável com o advogado por dois anos.
No áudio, o advogado reclama que a companheira está usando uma roupa curta de academia, "onde tem um monte de homem". "Eu não tô lhe chamando de puta, eu tô dizendo que seus comportamentos são de puta, certo?", afirma. "Faz o seguinte, pegue suas coisas e vá para casa de sua mãe", completa.
Ele ainda diz em tom ríspido que, com aquela roupa, ela "mostra o rabo todo".

Eu não estou aqui para botar essa consciência em você não, certo? Agora, se você quer andar como uma puta, ande, minha filha. Agora ande sozinha, ande sozinha. Você pega as suas coisas, vai para casa de sua mãe. Você anda até nua, porra. Você anda até nua porque você não tem compromisso com ninguém.
Áudio de João Neto
Para a delegada Ana Luiza Nogueira, coordenadora das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher de Maceió, o áudio deixa "evidente a tentativa de controle sobre o corpo da mulher". "E quanto às palavras proferidas, trata-se de crime contra a honra na seara da violência doméstica", diz.
Esse caso, porém, não seria o único em que João Neto fala em expulsar a jovem de casam segundo a advogada Júlia Nunes.
"Ele a expulsou muitas vezes, mas sempre se desculpava, e ela perdoava" conta Júlia, citando que a jovem "está amedrontada" com a repercussão do caso. "Ela é só uma menina que se encantou, se apaixonou e se deu mal", explica.
O UOL procurou a advogada de João Neto, Minghan Chen, para saber se ela gostaria de se pronunciar sobre o áudio, mas não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
João Neto foi preso em flagrante no dia da agressão, e já teve pedidos de liberdade negados pelo TJ-AL (Tribunal de Justiça de Alagoas) e, nesta quarta-feira, pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Entenda o caso
A mulher afirmou em depoimento que foi empurrada, caiu e cortou o queixo quando ele tentava expulsá-la à força do apartamento onde moravam. A versão da tentativa de expulsão foi confirmada pelo próprio João Neto, que também publicou as imagens internas da residência nas redes sociais. Ao menos uma testemunha presenciou a cena.
A vítima afirma estava no quarto descansando quando João abriu a porta e reclamou, entre coisas, que ela não estaria fazendo nada. João disse a prestadores de serviço que estavam na casa para avisar que eles eram testemunhas. Depois, puxou a vítima da cama. Ela disse que pediu para que ele não a tocasse.
Esta parte do depoimento foi corroborada por um prestador de serviço que estava no local. Ele disse que ouviu João dizer que queria expulsá-la do apartamento. Ela afirma ainda que, após ser retirada da cama à força, foi empurrada por João, que tentava retirá-la do imóvel. Ela então se segurou para não ser expulsa.
A vítima cita que estava descalça e, em certo momento, levou um empurrão. Ela caiu e bateu com força o queixo no chão. João também foi ao chão.
Em depoimento, João afirmou ter dito à mulher que "não teria condições de continuar com a relação" e pediu que ela saísse do apartamento.
Ele cita ainda que, mesmo após mandar ela sair, percebeu que ela "ainda se encontrava no quarto, deitada na cama com ar condicionado ligado", e afirma que pegou a vítima "pela barriga para levá-la para fora". Entretanto, como o piso é liso, ela escorregou e ambos caíram.
Imagens da vítima saindo ensanguentada do apartamento foram flagradas por uma câmera de segurança do prédio. João aparece usando um pano para estancar o sangue.
Mais agressões
A mulher ainda alegou que essa não foi a primeira vez que sofreu agressões. À polícia, citou um caso de outubro de 2024, quando ele também a empurrou, e ela bateu a cabeça na cabeceira da cama. Além disso, ele a segurou pelo pescoço.
A vítima também disse que já foi ameaçada, inclusive com arma de fogo. Além disso, afirmou à polícia ter sofrido enforcamento, chute e empurrão em outras ocasiões.
Em nota à imprensa, a defesa de João Neto afirmou que "os fatos divulgados não refletem a realidade do ocorrido". "Não houve qualquer ato de violência por parte do acusado. Trata-se de um episódio isolado, decorrente de um acidente em que ambas as partes caíram, sem conduta dolosa. Ressalte-se que, no momento, o piso do apartamento encontrava-se molhado em razão de limpeza, contribuindo diretamente para o ocorrido", diz.
Ainda segunda a defesa, foi entregue um vídeo que "comprova a dinâmica dos fatos, reforçando a tese de acidente e descaracterizando qualquer cenário de agressão".
A defesa já está adotando todas as medidas cabíveis para cessar esse constrangimento ilegal e a indevida restrição de liberdade imposta ao acusado. A defesa reitera seu compromisso com a verdade, com a ampla defesa e com o devido processo legal, confiando que os fatos serão devidamente esclarecidos no curso da investigação.
Nota assinada pelos advogados Minghan Chen, Cícero Pedrosa e Vinicius Guido Santos