Novo megaparque aquático acumula acidentes com fraturas e traumatismo em PE
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Uma série de acidentes que deixou visitantes feridos levou a polícia a abrir uma investigação contra o parque aquático Acquaventura, localizado na praia de Carneiros, no município de Tamandaré (PE). O megaempreendimento foi inaugurado em 25 de abril, custou cerca de R$ 140 milhões e tem como principal atração uma montanha russa aquática —a segunda do país, depois da primeira em Olímpia (SP).
Nos dez primeiros dias de funcionamento, visitantes foram às redes sociais e denunciaram os casos, que rapidamente ganharam repercussão. Além dos casos citados na página do empreendimento, a coluna contabilizou ao menos cinco acidentes, com oito pessoas feridas, e casos de traumatismo craniano e fraturas —uma delas precisou de cirurgia.
Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco não informou o número de vítimas que já procuraram a instituição, mas citou que "tomou conhecimento do caso e está tomando as devidas providências".
Já o parque diz que todas atrações são "devidamente certificadas e passaram por centenas de testes técnicos" e afirmou que é "indispensável que os visitantes observem as orientações de segurança".
Mais casos em um brinquedo
O UOL ouviu relato de sete pessoas que se acidentaram entre o dia 27 de abril e 3 de maio. Algumas foram levadas para o Hospital Municipal José Múcio Monteiro, onde receberam atendimento e depois foram transferidas.

A técnica de enfermagem Maryana Maranhão, 20, foi a vítima com o ferimento mais grave. Ela se acidentou no brinquedo chamado Canoa do Muxima e sofreu uma fratura na clavícula.A jovem foi levada para o Hospital Dom Helder Câmara, no município do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Passou por uma cirurgia ontem e está internada.
O noivo dela, o militar Lucas Thiago Alves, 21, explica que o tratamento está sendo feito pelo SUS porque o parque não se prontificou a dar assistência particular. Ele também se acidentou no equipamento, mas teve escoriações leves.
O apoio que o parque deu foi o transporte para o hospital e mandar um médico hoje [segunda] para olhar o estado da minha noiva. Ou seja, fizeram nada, porque se uma pessoa se acidenta no sábado, como eles esperam dois dias para olhar o estado dela? E era para ele ter feito a cirurgia particular. É bastante indignante.
Lucas Thiago

Segundo ele, Maryana está estável, e a cirurgia foi um sucesso, segundo os médicos. "O Dom Helder prestou um atendimento excelente do início até agora", afirma.
O advogado Fernando Araújo, 41, sofreu um acidente junto com a esposa no sábado de manhã no mesmo brinquedo. Ele teve fissuras em três costelas, enquanto Luanna de Pinho Cavalcanti, 42, quebrou a clavícula, mas sem necessidade de cirurgia até o momento.
Ele conta que foi ao parque com o filho e a enteada, ambos de 9 anos, e o acidente ocorreu quando apenas o casal estava em uma boia. "Eles pegaram o nosso contato após nos deixarem no hospital, mas para saber se íamos querer remarcar ou receber o valor de volta", diz.

A gente só foi procurado por uma pessoa, que se disse gerente do parque, às 17h de ontem [domingo], mais de 24 horas depois do acidente e só por causa da repercussão dos casos.
Fernando Araújo
Ele afirma que, apesar do parque estar lotado, não havia estrutura de atendimento para emergências. "Não tinha sequer uma enfermeira", diz. Ele ainda relata que a estrutura do parque deixa muito a desejar.
Eu me senti dentro de um experimento, de ter um pessoal sem expertise. Parece que abriram um parque fazendo economias e sem estar realmente pronto. O mais grave é que o médico disse que não era o primeiro caso, que depois do parque, aumentou o número de atendimento de acidentes.
Fernando Araújo

Na última sexta-feira, quem sofreu um acidente no mesmo brinquedo foi o casal de empresários Darling Nunes, 37, e Carlos Ulysses, 40. "Ao entrar no tobogã, tem uma parte aberta, tipo um cone, e logo na entrada a boia virou. Ao virar, batemos cabeças e ombros. Como a pressão e velocidade da água arrastou a boia, ficamos caídos dentro do tobogã, muito machucados. Ficamos com um galo enorme e muita dor", conta ela.
Um fato chamou a atenção: não desligaram a água para que o casal pudesse sair. "Entrou um salva-vidas, que levou outra boia e nos obrigou continuar o percurso, pois a fila estava grande. Como não saímos sangrando, eles fizeram de conta que nada aconteceu", relata.
Vídeos com denúncia
Nas redes sociais, outras pessoas também relataram experiências traumáticas no parque. O relato de Jaqueline Nascimento foi um das que teve maior repercussão. Ela diz que foi arremessada para fora da montanha russa aquática no dia 1º de maio e postou quatro vídeos no Instagram contando o caso.
Na segunda volta do brinquedo foi desesperador, porque era para a gente descer, mas simplesmente a gente foi projetado para cima; meu rosto está desse jeito porque eu fui arrastada pelas grades de proteção.
Jaqueline Nascimento
Traumatismo por queda
Uma outra vítima foi Verônica Maria da Silva, 45, que visitou o parque em 27 de abril com a neta. Em nota, o advogado Kleber Freira explica que ela sofreu uma queda "ocasionada por evidente falha na prestação do serviço". Ele aponta que o local do acidente estava "visivelmente escorregadio", não possuía material antiderrapante, e tinha lodo —demonstrando a falta de manutenção.
O impacto da queda provocou traumatismo com perda de consciência e vômitos, sendo necessário o encaminhamento ao hospital municipal e, posteriormente, ao hospital Dom Helder. A vítima retornou a sua casa no último domingo e permanece de atestado em razão de fortes dores na coluna.
Kleber Freire
Ele ainda afirmou ao UOL que, diante do relato de tantos casos, prepara um documento para ser encaminhado ao MP-PE (Ministério Público de Pernambuco) denunciando as condições do parque e reomendando suspensão imediata do local para uma inspeção a fim de evitar novos acidentes.

Outros visitantes também denunciaram casos de acidente nas redes sociais do parque. As reclamações pasam por falta de pessoal treinado para os brinquedos, precariedade da estrutura montada e ausência de apoio adequado aos acidentados.
O parque

O parque aquático tem cerca de 55 mil m² e pertence à empresa Gramado Parks, que tem outros empreendimentos de lazer pelo país. O local foi projetado para atender até 3 mil pessoas por dia e tem como destaque a primeira montanha-russa aquática de Pernambuco e a segunda do Brasil.
A coluna tentou contato com a Gramado Paks por email, mas não obteve retorno. Caso haja contato, o texto será atualizado.
Em nota à imprensa, o Acquaventura afirma que os brinquedos são seguros.
Veja a integra:
"O Acquaventura informa que todas atrações do parque são devidamente certificadas e passaram por centenas de testes técnicos, inclusive pela própria equipe, obedecendo aos mais rígidos controles de qualidade internacionais.
Ressaltamos ser indispensável que os visitantes observem as orientações de segurança, que já garantiram experiências maravilhosas a mais de 6000 visitantes desde a abertura do parque
Estamos prestamos todo o suporte necessário ao ocorrido e realizando investigações para entender as suas causas, evitando julgamentos prematuros."
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