MPF-PB denuncia 7 por licitação fraudada em obra com recursos de Hugo Motta

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O MPF (Ministério Público Federal) da Paraíba denunciou sete pessoas, entre servidores públicos e empresários, por fraude na contratação de uma construtora para restauração de avenidas no município de Patos, cidade governada por Nabor Wanderley (Republicanos), pai do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos). Nenhum dos dois, porém, está entre os denunciados.
O projeto foi financiado com recursos federais do MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional) no valor total de R$ 5 milhões. A restauração contou com recursos de emenda de relator do deputado Hugo Motta, como informou a colunista Natália Portinari.
A denúncia levou em conta a investigação da PF (Polícia Federal) da operação Outside, que apontou a suposta ocorrência de crimes em uma concorrência pública de 2021 destinada à contratação de empresa para executar a restauração de avenidas na alças Sudeste e Sudoeste).
O MPF aponta que o processo foi fraudado para beneficiar a construtora declarada vencedora do certame em 29 de outubro de 2021, com uma proposta de R$ 4,2 milhões. Segundo a denúncia, o desconto de 15% dado pela empresa no valor original viria a ser posteriormente eliminado por meio de aditivos contratuais.
A denúncia cita crimes ocorridos durante a fase de licitação que teriam prejudicado o "caráter competitivo de licitação", com dano ao erário estimado em R$ 380 mil (valor atualizado até maio de 2023). A devolução desse valor é um dos pedidos do MPF na ação.
Os acusados foram denunciados pelos crimes de afastamento de licitante e frustração do caráter competitivo de licitação.
Essa é apenas a primeira denúncia do caso, e o MPF afirma que outros crimes relacionados à execução da obra e de corrupção serão objeto de denúncias separadas, que serão feitas à Justiça Federal nos próximos meses.
Em nota, a Prefeitura de Patos diz que não foi oficialmente notificada, mas garante que não houve ilegalidade na obra (leia a íntegra abaixo).
Como era o esquema
A investigação da operação Outside quebrou sigilos telemáticos e cita que descobriu um conluio entre os denunciados para direcionar a licitação.
O edital da concorrência, segundo análise da CGU (Controladoria-Geral da União), continha cláusulas restritivas à competitividade e ilegais. Entre as exigências questionadas estão a de Certificado de Registro Cadastral da prefeitura com um prazo curto. Além disso, um outro suspeito confessou que pediu um "piso tátil" no edital para dificultar a participação de concorrentes.
A análise da CGU ainda apontou que empresas que concorreram foram consideradas inabilitadas por descumprir requisitos básicos do edital. Segundo a apuração, quatro delas sequer apresentaram comprovação da garantia de proposta exigida.
Diante disso, a CGU concluiu que havia "fortes indícios" de que essas empresas não tinham intenção real de competir e participaram apenas para simular concorrência.
Uma outra servidora é acusada de repassar informações privilegiadas ao dono da construtora, como o número de empresas interessadas na licitação. Após a vitória, ela recebeu pagamentos em pix da construtora.
Um fato que chamou a atenção dos investigadores é que o engenheiro contratado pela prefeitura para assessoria e consultoria, e responsável pela análise técnica das propostas da licitação, trabalhava simultaneamente para a construtora vencedora, fazendo o projeto executivo para a empresa.
Nota da prefeitura:
"A Prefeitura Municipal de Patos, por meio da Secretaria de Administração, informa que, até o presente momento, não foi oficialmente intimada da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da chamada "Operação Outside", que trata de supostas irregularidades em processos licitatórios referentes à restauração de avenidas na Alça Sudeste e Avenida Manoel Mota - Alça Sudoeste.
Dessa forma, não é possível, neste momento, qualquer manifestação sobre o conteúdo da referida denúncia, uma vez que o Município ainda não teve acesso aos autos nem foi formalmente notificado para apresentar qualquer esclarecimento.
O que a gestão municipal pode afirmar é que todas as contratações realizadas seguem critérios de legalidade, transparência e competitividade, sendo esses princípios fundamentais nas licitações promovidas pela Prefeitura de Patos. A administração municipal sempre prezou pela correta aplicação dos recursos públicos, o que se reflete nos índices de transparência pelos quais o município é constantemente reconhecido.
Tão logo a Prefeitura seja formalmente cientificada do teor do processo, irá se manifestar nos autos de forma responsável e apresentar todos os esclarecimentos e documentos que se fizerem necessários para garantir a lisura e a legalidade dos atos praticados.
Francivaldo Dias, secretário de Administração.
Prefeitura Municipal de Patos"
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