Carlos Madeiro

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Reportagem

Pacientes têm problemas graves de visão após mutirão oftalmológico na PB

Ao menos nove pacientes que passaram por um mutirão oftalmológico no Hospital de Clínicas de Campina Grande (PB) na última quinta-feira (15) apresentaram problemas graves nos olhos, como perda ou baixa visão. Eles estão sendo acompanhados por uma equipe médica especializada.

A SES (Secretaria de Estado da Saúde) afirmou que os procedimentos foram executados pela Fundação Rubens Dutra Segundo, contratada pelo governo paraibano e, segundo a secretaria, responsável pelos profissionais e pelo uso de materiais. A pasta diz ainda que está apurando possíveis irregularidades.

"Após análise dos materiais da empresa que estavam dentro do hospital, a SES identificou 30 frascos da medicação utilizada, dos quais seis estavam vencidos e abertos, com indícios de terem sido utilizados nos pacientes que apresentam sintomas graves", diz a pasta em nota.

A SES ainda afirma que os pacientes estão fazendo tratamento com antibióticos e realizando exames para avaliação detalhada. "Os casos mais graves estão sendo acompanhados na enfermaria do Hospital Metropolitano, onde permanecem sob monitoramento contínuo. Outros dois pacientes seguem em acompanhamento em um hospital particular de Campina Grande".

Segundo Ari Reis, secretário de Saúde de Saúde da Paraíba, desde domingo (18) à noite pacientes começaram a procurar urgências de hospitais estaduais com queixa de dor no olho. "Algumas queixas comuns do pós-operatório e outras queixas que nos alertaram um pouco mais", diz.

Identificamos sintomas graves em nove pacientes, e dois já passaram por procedimento cirúrgico que consiste basicamente numa raspagem dessa via que foi afetada por uma provável infecção.
Ari Reis, secretário de Saúde de Saúde da Paraíb

O procedimento

Na quinta-feira, 64 pessoas foram submetidas à aplicação intravítrea — injeção no olho — da solução Lucentis, indicada para tratar doenças da retina. Esse tratamento é geralmente realizado mensalmente, e a quantidade de aplicações varia conforme o problema.

Em entrevista à TV Paraíba, Inácio Quaresma Neto afirma que a mãe dele é uma das vítimas. "Ela começou a fazer esse procedimento há cinco meses; todo mês era uma aplicação no olho. Na quinta-feira, ela já saiu de lá com o olho doendo e dizendo que tinha dado errado. E agora ela perdeu a visão total do olho", diz.

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De acordo com Robson Dutra, responsável pela Fundação Rubens Dutra Segundo, ainda no sábado (17), alguns pacientes procuraram a equipe dos procedimentos com queixas de dores no olho e na cabeça.

Ele diz que foram "pouco mais de 20" pacientes reexaminados, e alguns, com casos considerados mais graves, receberam antibióticos por precaução. Doze tiveram material recolhido para exame de cultura, e os resultados devem ficar prontos até quinta-feira para determinar a causa do problema.

"O atendimento foi rápido: quando soube da primeira intercorrência, mandei ligar para todos os pacientes. Criei uma comissão interna para entender melhor tudo isso. Até sexta-feira, com os resultados das culturas, vamos fazer uma nota dizendo o que tem para dizer. Neste momento estamos concentrando nos atendimentos a esses pacientes", afirma.

Dutra nega a informação da SES de que havia remédios vencidos. "No nosso estoque não temos medicamento vencido. Aliás, eles foram comprados recentemente e só vencem no ano de 2026. Só posso dizer que não tenho nada vencido", diz.

Ele ainda afirma que realiza procedimentos oftalmológicos há dois anos e nunca tinha apresentado problemas: "Inclusive, na sexta-feira, mais de 40 pessoas passaram por procedimentos e não tiveram nada".

A SES diz que instaurou processos administrativos, éticos e criminais para investigar as responsabilidades da fundação e apurar as condutas adotadas no caso.

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O contrato com a empresa foi suspenso nesta segunda-feira, e ela deve "responder administrativamente e criminalmente pelos fatos apurados".

Enquanto a apuração está em curso, a SES está acolhendo todos os pacientes afetados, oferecendo suporte integral, incluindo reavaliações médicas, acompanhamento contínuo e logística para tratamentos complementares em nossas unidades hospitalares e clínicas do estado.
SES

O Ministério Público da Paraíba afirmou que expediu ofício à SES nesta terça-feira e deu prazo de 10 dias para que apresente informações detalhadas sobre o mutirão, com a relação dos profissionais envolvidos, cópia do contrato firmado com a Fundação Rubens Dutra Segundo e sobre o processo administrativo instaurado para apuração dos fatos.

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