Carlos Madeiro

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Reportagem

Vereadora sofre transfobia durante sessão da Câmara em Natal

A vereadora Thabatta Pimenta (PSOL) foi alvo de ataques transfóbicos na última terça-feira durante a votação da concessão de título de cidadão natalense ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As falas foram proferidas por pessoas que foram acompanhar a votação na Câmara de Natal.

Thabatta, que é uma mulher trans e mãe atípica, registrou um boletim de ocorrência — caso é investigado pela Polícia Civil.

As falas foram filmadas pela assessoria de Thabatta. Entre as ofensas, estão a de que ela não seria "mulher de verdade". Uma apoiadora de Bolsonaro disse que ela teria "dois sexos".

Transfobia é crime inafiançável no Brasil e nunca prescreve, com pena de 2 a 5 anos de prisão. A prática é enquadrada como injúria racial, de acordo com decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de agosto de 2023.

Plenário da Câmara de Natal
Plenário da Câmara de Natal Imagem: Francisco de Assis/Câmara de Natal

Ao UOL, Thabatta conta que as ofensas ocorreram enquanto ela estava discursando no plenário contra a concessão do título. "A minha mãe era enfermeira da linha de frente e morreu de covid-19. Eu disse que não votaria por causa dela e de todas as famílias que viveram essas perdas."

Ela conta que bolsonaristas que estavam na galeria da Câmara faziam gestos em sua direção enquanto ela falava, mas ela não conseguiu ouvir o que era dito.

"Minhas assessoras viram que elas estavam cometendo crime de transfobia, com falas absurdas, e começaram a filmar. Pela expressão delas, percebi que estava ocorrendo algo errado e fui lá saber o que era. Quando soube, voltei ao plenário, contei o que houve, e nada foi feito", relata.

A Guarda [municipal] estava lá, havia pessoas também que poderiam fazer algo. A delegada que me ouviu questionou 'o que a Câmara fez', e eu disse: "Nada". Ela explicou que deveriam ter dado voz de prisão por se tratar de falas criminosas. Mas sequer registraram o nome das pessoas que estavam ali.
Thabatta Pimenta (PSOL), vereadora

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Nesta quarta-feira, Thabatta publicou imagens das pessoas que a teriam ofendido e pediu ajuda da população para que elas sejam identificadas.

Em um discurso ontem, Thabatta reclamou da falta de ação e recebeu apoio de vários colegas.

"A Câmara não me procurou. Essa segurança falha não é só para mim, uma mulher trans, mas para tantas outras representações que estão lá. Poderia ser intolerância religiosa, capacitismo, racismo."

A coluna procurou a Câmara, que em nota afirmou ter "compromisso com a promoção da igualdade, do respeito e da dignidade de todas as pessoas, repudiando veementemente qualquer forma de discriminação, inclusive a transfobia".

Em relação ao fato recentemente ocorrido, informamos que a Presidência da Casa, juntamente com os órgãos competentes, está adotando todas as providências necessárias para a apuração rigorosa dos acontecimentos, com a identificação das pessoas envolvidas e a consequente adoção das medidas administrativas e legais cabíveis.
Nota da Câmara de Natal

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Título foi aprovado

Na sessão da terça-feira, o título de cidadão natalense a Bolsonaro foi aprovado com 19 votos a favor, cinco contra e uma abstenção. A proposta foi feita pelo vereador Subtenente Eliabe (PL).

Essa foi a segunda vez que Bolsonaro teve a honraria aprovada. A primeira, no dia 10 de abril, acabou sendo anulada por decisão do juiz Francisco Seráphico da Nóbrega Coutinho, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Natal, que atendeu a pedido da vereadora Samanda Alves (PT).

Samanda pediu a anulação por ter tido um pedido de vistas do projeto rejeitado durante a sessão. Por isso, houve uma nova votação. A ideia de Eliabe é que Bolsonaro receba o título no dia 12 de junho, quando deve voltar ao Rio Grande do Norte.

Nesta semana estavam previstas ainda as votações dos mesmos títulos para a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (PL) e para o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), mas por causa da repercussão dos ataques a Thabatta Pimenta a votação foi retirada da pauta.

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