MP acusa médico de 137 mil seguidores por morte após harmonização de bumbum
Ler resumo da notícia

O MP-PE (Ministério Público de Pernambuco) denunciou o médico Marcelo Alves Vasconcelos por homicídio qualificado. Ele teria causado a morte de uma paciente de 46 anos após ela fazer uma harmonização de bumbum em uma clínica particular do Recife. No procedimento, ele usou substância contraindicada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para fins estéticos.
Adriana Soares Lima Laurentino foi encontrada morta no banheiro de casa no dia 11 de janeiro, dia seguinte de um procedimento estético chamado bioplastia de glúteos. O corpo dela tinha sinais de sangramento e escurecimento. Segundo a Polícia Civil, a paciente conheceu o serviço do médico pelo Instagram, onde Marcelo anuncia serviços e tem 137 mil seguidores.
A polícia diz que fez contato pelo link da empresa para agendar o procedimento, que foi realizado na tarde do dia 10 de janeiro na clínica onde o profissional atende no bairro do Pina, na capital pernambucana. Ela pagou R$ 21 mil pela aplicação.
"A gente comprou na apuração que ele tinha ciência de que a substância vem causando morte há algum tempo, isso vem sendo noticiado. Houve uma mercantilização, o que mostra que ele teve uma indiferença quanto ao resultado [morte] da paciente. Os órgãos não indicam seu uso", diz ao UOL o delegado Mário Melo, responsável pelo inquérito.
O negócio dele é todo pela internet: a mulher vê as fotos e fica encantada. Ela entra em contato com a atendente, marca a consulta, e o médico só viaja para fazer a aplicação, não tem a ajuda de nenhum auxiliar, ele faz o procedimento apenas com um filmaker [um câmera]. As mulheres, inclusive, autorizam nos contratos a divulgação de imagens do pré e do pós.
Mário Melo

Denúncia
Se a denúncia for aceita pelo Tribunal do Júri da Capital, Marcelo irá a júri popular. A acusação foi feita de homicídio por dolo eventual (quando ase assume o risco de matar) e por motivo torpe (quando a razão para cometer um crime que é considerada moralmente abjeta, repugnante e que demonstra uma grande depravação do agente).
Como Marcelo não tinha ainda registro para atuar em Pernambuco, também foi denunciado pelo crime de exercício ilegal da profissão. O registro dele foi regularizado apenas após a morte.
Segundo o portal do CFM (Conselho Federal de Medicina), Marcelo está com registro regular em quatro estados (Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo), mas "sem especialidade registrada".
Apesar da denúncia, ele segue ativo nas redes sociais e marcando procedimentos, com agenda aberta para os próximos dias 2 e 3 de junho no Recife, além de atendimentos previstos também para as cidades de Fortaleza, Rio, Guarulhos e São Paulo no próximo mês.
Em nota ao UOL, o Cremepe (Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco) informou que uma sindicância foi instaurada e corre em sigilo processual "para não comprometer a investigação".
Entenda o caso
O procedimento em Adriana foi feito com a aplicação de 360 ml de um produto chamado polimetilmetacrilato, conhecido como PMMA, que tem uso estético não recomendado pela Anvisa e só é autorizado para "tratamento reparador". O médico cobra R$ 60 por cada ml do produto, sendo a aplicação mínima de 180 ml.
Na página da agência sobre o produto, há um destaque claro para a contraindicação e explicação de que ele só deve ser usado para correção "volumétrica facial e corporal" em caso de "sequelas de doenças como a poliomielite" e para "correção de lipodistrofia" (concentração de gordura em algumas partes do corpo) provocada pelo uso de medicamentos em pacientes com HIV/Aids.
Apesar da recomendação clara para não se usar o produto com finalidade estética, Marcelo cita em sua página que usa o produto e diz que seria seguro.

Segundo Rafael Anlicoara, presidente da Associação Pernambucana de Cirurgia Plástica, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica pediu à Anvisa que proíba a produção e venda do produto no país.
"Ele é um polímero que nunca é absorvido [pelo organismo]. Então, por ser vendido barato e por permitir o resultado ser permanente, ele vende muito fácil. Mas as complicações também são muito graves com o uso do PMMA: causa problemas nos rins, pode causar infecção, pode migrar, inclusive, dando trombose ou embolia, o que causa risco de morte nas pacientes", disse, em entrevista à TV Globo Nordeste.
A coluna tentou contato com o médico pelos contatos que ele fornece pelas redes sociais, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Após a morte da paciente, ele soltou uma nota em que disse que não haveria "nexo de causalidade" entre "a intercorrência sofrida pela paciente" e sua atuação. "infelizmente intercorrências cirúrgicas podem ocorrer", afirmou.
A paciente que não tinha qualquer comorbidade ou contraindicação para o procedimento realizado, quer seja bioplastia glútea, sendo todas as etapas do procedimento cuidadosamente planejadas e executadas, seguindo os mais rigorosos padrões de segurança e qualidade.
Nota de Marcelo Vasconcelos
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.