CE tira restos mortais de ditador e cria memorial sobre escravidão no local

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O governo do Ceará inaugurou na última quarta-feira a Galeria da Liberdade, um memorial que substitui o antigo Mausoléu do ex-presidente Castelo Branco. Os restos mortais do ditador e de sua esposa, Argentina Vianna, foram retirados do prédio tombado, inaugurado em 1972.
A galeria ressignifica o local pertencente ao Palácio da Abolição, sede do governo e residência do governador, em Fortaleza, retirando a homenagem ao general cearense que foi o primeiro presidente da ditadura militar (1964-1967). "Não ficará mais o mausoléu de quem apoiou a ditadura", disse o governador Elmano de Freitas, em setembro de 2023, ao anunciar a retirada dos restos mortais.
A nova galeria agora conta a história da luta pela abolição da escravidão no Ceará, que ocorreu no estado quatro anos antes do que no restante do país (leia mais abaixo).
O prédio tem cerca de 300 m² e faz parte do conjunto arquitetônico do Palácio da Abolição, projetado por Sérgio Bernardes com um desenho arrojado: um prisma alongado e suspenso 30 metros sobre um espelho d'água. A câmara funerária estava na extremidade final do prédio.
Agora transformado em galeria, foram colocados adinkras (símbolos ideográficos, parte da cultura do povo Akran, na África Ocidental) além de imagens de mulheres negras consideradas referências para o movimento negro no Ceará.
O novo espaço será gerido pelo Museu da Imagem e do Som do Ceará, e a primeira exposição do local é "Negro é um rio que navego em sonhos".

"A Galeria da Liberdade é a expressão concreta de uma política cultural comprometida com a democracia, a memória e os direitos humanos. Ressignificar esse espaço, que por tantos anos abrigou o antigo Mausoléu Castelo Branco, e agora destiná-lo à arte, à memória e à experimentação é um gesto político e simbólico", disse ao UOL a secretária de Cultura, Luisa Cela.
Transformá-lo em lugar de criação, difusão artística e reflexão crítica é um passo fundamental para reafirmarmos o papel da cultura na construção de futuros mais justos. Este equipamento se torna símbolo da força criadora que resiste, reinventa e repara acontecimentos em prol de uma sociedade mais humanizada e plural.
Luisa Cela
Sem oposição

A retirada dos restos mortais do ditador ocorreu há cerca de dois meses e o material ainda está em posse do governo cearense, que aguarda uma definição de familiares de Castelo para determinar o que será feito. "Semana que vem teremos notícias", disse a neta Helena Castelo Branco, sem dar mais pistas: "Não estou autorizada."
Em março de 2024, a secretária de Cultura havia dito à coluna que a família não foi contra a ideia de retirada dos restos mortais.
1º presidente da ditadura morreu em acidente de avião
Castello Branco foi um dos principais articuladores do golpe de 1964 e, por isso, acabou indicado para ser o primeiro presidente da era militar, que perdurou por 21 anos no Brasil.
Ele morreu em um acidente aéreo no dia 18 de julho de 1967, após o avião que o levava ser tocado por uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) enquanto se preparava para pousar, caindo em seguida.

Luta abolicionista no Ceará
O Ceará se orgulha de ser o estado que primeiro aboliu a escravidão no país, quatro anos antes da Lei Áurea, assinada em 1888 pela princesa Isabel.
A luta começou com o movimento de jangadeiros, em janeiro de 1881, quando eles se recusaram a transportar escravos de e para navios negreiros, dando fim ao tráfico na província.
O primeiro passo para o fim da escravidão ocorreu em 1º de janeiro de 1883, na Vila do Acarape, atual município de Redenção. Um ato realizado em frente à igreja Matriz marcou a entrega de cartas de alforria para 116 escravos daquela região.

No dia 25 de março de 1884, o estado então aboliu completamente a escravidão. A data magna do Ceará foi instituída como feriado estadual a partir de 2011.
O movimento foi liderado por um personagem histórico, Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, que dá nome a um centro cultural em Fortaleza.
A luta cearense inspirou outros movimentos abolicionistas pelo país.
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