Carlos Madeiro

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Aviões atolam em aeroporto recém-liberado e viram dor de cabeça em Noronha

Em apenas oito dias, dois aviões de grande porte atolaram seus trens de pouso no pátio do aeroporto de Fernando de Noronha. Os incidentes ocorreram nos dois últimos domingos (22 e 29 de junho), sendo o mais recente com um Boeing 737 MAX da Gol. O fato repetido de o asfalto não suportar o peso gerou receio do turismo e uma cobrança do governo federal ao estado de Pernambuco, responsável pela gestão do local.

Os casos chamam a atenção porque o aeroporto passou por uma requalificação recente da pista para voltar a receber aviões a jato. Os voos desse tipo de aeronave foram vetados em outubro de 2022 pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e só foram liberados em março deste ano, após reforma na pista.

A suspensão dos voos de aviões com turbina, diz a Anac, ocorreu para garantir a segurança das operações aéreas, já que havia risco de que aeronaves "aspirassem detritos da pista de pouso e decolagem". Nesse período, apenas aviões de hélices pousavam no local.

22.jun.2025 - Roda de trem de pouso de avião da Azul atolada no pátio do aeroporto de Fernando de Noronha
22.jun.2025 - Roda de trem de pouso de avião da Azul atolada no pátio do aeroporto de Fernando de Noronha Imagem: Arquivo pessoal

As obras de recapeamento da pista começaram após longo atraso, apenas em setembro de 2024, após críticas de empresários locais. O projeto ainda não foi concluído: outros pontos do aeroporto estão com obras paradas por conta das chuvas (veja nota abaixo). A requalificação está orçada em R$ 60 milhões.

Os dois atolamentos geraram receio de que haja um novo bloqueio de voos. "A gente tem medo que a Anac engrosse o cordão e comece a proibir avião grande de novo", diz o presidente do Conselheiros Distrital do arquipélago, Ailton Araújo Júnior.

Essa obra já começou atrasada e só foi concluída essa parte do eixo central, que era o principal para Anac liberar os voos a jato. Nas demais [áreas do aeroporto], parou. Uma coisa é certa: se a ilha voltar a turbo hélice, quem vai se prejudicar é a gente, não é quem é do governo. Aqui 100% vive do turismo, do cara que vende cachorro-quente à maior pousada.
Ailton Araújo Júnior

Órgãos federais cobram estado

Ao UOL, o Ministério de Portos e Aeroportos informou que está "acompanhando de perto" a situação do aeroporto e, junto à Anac, cobrou providências "com urgência" do governo de Pernambuco, responsável pela gestão do aeroporto.

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Os órgãos, diz a nota, "solicitaram explicações formais sobre os incidentes e exigiram a apresentação de um cronograma de obras para a requalificação da infraestrutura aeroportuária".

A medida busca garantir a segurança das operações e evitar riscos à aviação civil na região. [A pasta] segue atuando para serem tomadas, com urgência, as ações necessárias por parte do poder concedente estadual e da empresa responsável pela administração do sítio aeroportuário.
Ministério de Portos e Aeroportos

Avião a jato voltou a decolar e pousar em Fernando de Noronha em março
Avião a jato voltou a decolar e pousar em Fernando de Noronha em março Imagem: Ministério dos Portos e Aeroportos

A Anac informou que se reuniu ainda no domingo com o "operador do aeroporto e com as empresas aéreas que operam no terminal para discutir sobre as ocorrências envolvendo aeronaves a jato e a pista de taxiamento do aeródromo". Entretanto, a nota da agência não cita nem explica as medidas tomadas.

A empresa responsável pela gestão do terminal do aeroporto, a Dix, foi procurada pelo UOL, mas se esquivou de falar sobre os casos e pediu para que a reportagem procurasse o governo do estado para falar das obras.

Segundo a Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco, a área onde ocorreram os atolamentos ainda não foi contemplada pelas obras — que devem ser retomadas a partir de 15 de julho. A paralisação, diz, ocorreu por conta do inverno.

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As chuvas intensas e recorrentes que atingem a ilha entre março e junho, período conhecido como 'quadra chuvosa', influenciaram diretamente o cronograma das intervenções. A continuidade das obras ocorrerá em condições climáticas mais favoráveis
Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco, em nota

Ainda segundo a pasta, a requalificação vai contemplar nessa fase as "pistas de taxiamento, áreas de estacionamento e vias laterais". "As intervenções serão executadas com Concreto Betuminoso Usinado a Quente, material de alta durabilidade e resistência", completa.

Sobre o local do último atolamento, a pasta diz que o ponto passa por obras emergenciais de recuperação desde ontem.

Reportagem

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