Ação do Comando Vermelho leva mortes e medo à rota do turismo de luxo de AL

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O sucesso do turismo de luxo da Rota dos Milagres, no litoral Norte de Alagoas, atraiu a facção criminosa CV (Comando Vermelho), que tem feito ações e está assustando moradores que, até alguns anos atrás, viviam uma rotina pacata e de pouca violência.
A rota inclui os municípios de Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, que abrigam as pousadas de charme em suas praias paradisíacas. Além disso, o local realiza um das festas de virada de ano mais famosas, o Revéillon dos Milagres.
As cidades se tornaram destino de famosos, com suas casas e casamentos de alto luxo de artistas e empresários. Em especial, a pequena São Miguel dos Milagres está vivendo uma silenciosa transformação.
Moradores ouvidos pela reportagem relatam que situações de violência, que antes não existiam, passaram a ocorrer na cidade e causam uma sensação de insegurança.
Somente este ano, oito pessoas foram mortas na cidade, algumas delas pela polícia, e três jovens desapareceram.
"O que vemos hoje é que vários adolescentes, às vezes conhecidos nossos que foram colegas de escola, virarem para o outro lado [entrarem na facção]", conta uma moradora.
Uma situação que ocorre, por exemplo: pessoas estão na porta de casa, e dois homens passam em uma moto e roubam o celular; também aconteceram também furtos na praia a turistas. Não é algo recorrente, mas tem ocorrido, e não acontecia isso antes na cidade. Evidentemente, isso se deve a chegada dessa facção e geram medo.
Moradora que pediu para não ser identificada

Mortes na rota
Nós últimos três anos, as cidades da rota passaram a registrar mais homicídios. Houve um boom em 2022, ano que coincide com os relatos de chegada do CV, quando teria passado a atuar com força para "tomar territórios" para comandar o tráfico de drogas na região.
Assassinatos nas cidades da Rota dos Milagres:
- 2025 (até maio) - 9
- 2024 - 20
- 2023 - 20
- 2022 - 33
- 2021 - 7
"Nesses últimos anos, temos visto uma alta nas situações ligadas ao tráfico de drogas naquela região", admite o delegado Sidney Tenório, diretor de Homicídios da Polícia Civil.
Sidney diz que o estado tem feito mais operações desde o ano passado pela preocupação estratégica com a região. "O CV tem aumentado no estado e vem ampliando a atuação naquelas cidades da rota dos Milagres, e não só: também em outras cidades da região norte", afirma.
O objetivo é que não haja impacto no turismo. A gente não tem conhecimento que isso esteja ocorrendo, até porque são coisas situações ainda muito pontuais: não temos casos de tiroteio ou de um tráfico mais ostensivo. Termina que são jovens da própria comunidade que são cooptados e se tornam vítimas.
Sidney Tenório

São Miguel com mortes e sumiços
Este ano, São Miguel dos Milagres se destaca na violência entre os municípios da rota: foram seis das nove mortes violentas até maio, mais que a soma de mortes dos dois últimos anos (foram cinco entre 2023 e 2024).
O delegado de São Miguel dos Milagres e de Porto de Pedras, Heleno Melo, afirma que a chegada da facção causou um "desastre no meio social". "Eles vieram do Rio, de Maceió e estão se infiltrando aqui", afirma.
A gente vem apertando o cerco e mantendo a situação sob controle. Essa região teve um fluxo turístico que cresceu muito, e as facções vêm em função disso. Assim como fazem em todo o país, vai recrutando jovens para tráfico, homicídios.
Heleno Melo
No último dia 17, dois homens foram mortos em operação da Polícia Militar durante operação na praia de Porto da Rua, em São Miguel dos Milagres.

Segundo a SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública), um dos suspeitos mortos era conhecido como "Coroa Tito", chefe do CV na região. Um outro homem que fazia segurança dele, conhecido como "Peluxo", também foi morto. Eles teriam reagido a ação policial.
A ideia da polícia é que a morte do líder e apreensão de materiais (armas de fogo, munições e drogas) ajude a frear a ação e expansão do CV no estado. A polícia agora atua para encontrar corpos de quatro jovens desaparecidos na rota.

Em um dos casos, a família afirma que o responsável pelo "sumiço" foi a PM. João Vitor tinha acabado de fazer 18 anos e foi preso em uma operação no dia 6 de abril, suspeito de tráfico de drogas -o que é negado por familiares.
Segundo testemunhas, ele foi abordado, algemado e levado pela polícia, e pouco depois teria sido visto na viatura com machucados.
A versão oficial da PM é que ele fugiu da mala da viatura e não foi mais visto. A família fez buscas dele na mata por três dias, mas nada foi encontrado.
O delegado Ronilson Medeiros, chefe da Coordenação de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil de Alagoas, afirma que as ações de apuração estão em andamento.
"Dois corpos foram encontrados recentemente, e a gente está esperando perícia para confirmar a identidade deles", diz, citando que os casos estão sendo investigados para se chegar aos autores.
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