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Carolina Brígido

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ministros do Supremo ficam em silêncio para diminuir conflito com Bolsonaro

Ministros participam de sessão no plenário do STF - Nelson Jr./SCO/STF
Ministros participam de sessão no plenário do STF Imagem: Nelson Jr./SCO/STF

Colunista do UOL

12/04/2021 14h02

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Ao menos quatro ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) consideraram impróprio o áudio em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pressiona o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) sobre impeachment de integrantes da Corte. No entanto, eles consideram o silêncio a principal arma neste momento. Na avaliação deles, não é hora de dar declarações em defesa do tribunal. O objetivo é tentar esfriar os ânimos e reconstruir uma relação minimamente pacífica com o Palácio do Planalto.

Os ânimos entre o STF e Bolsonaro se acirraram a partir da quinta-feira (8), quando o ministro Luís Roberto Barroso determinou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, instalasse a CPI da pandemia da covid-19. Em seguida, Bolsonaro disse que Barroso não tem "coragem moral", mas tem "imprópria militância política" de sobra. Barroso respondeu: "Cumpro a Constituição e desempenho o meu papel com seriedade, educação e serenidade".

Já no sábado (10), o ministro Alexandre de Moraes saiu em defesa do colega. "(Com) decisões judiciais, nós podemos concordar, discordar, nós podemos criticar acidamente, recorremos, podemos conseguir reverter. Agora, uma decisão judicial fundamentada, pública, transparente, não faz e não cria o direito de ninguém poder ofender da forma como se ofendeu o ministro Luís Roberto Barroso".

O áudio da conversa de Bolsonaro com Kajuru foi divulgado no domingo. Ouvidos pela coluna em caráter reservado, ministros do STF consideraram negativo o conteúdo da conversa, mas não grave o suficiente para provocar nova declaração pública de integrantes da Corte. Ao menos não por enquanto. Para esses ministros, quanto mais se falar agora do assunto, pior fica o caminho de reconstrução do diálogo do Judiciário com o Planalto.

A exceção é Marco Aurélio Mello. Nesta segunda-feira (12), em entrevista ao colunista do UOL Kennedy Alencar, o ministro disse que Bolsonaro tem o hábito de promover crises para encobrir problemas reais do país. "O presidente nada de braçadas quando se tem crise. Ele fomenta a crise para desviar o foco e apresentar serviços entre aspas à nação", disse Marco Aurélio. "Infelizmente, o presidente da República às vezes é ouvido no que ele desborda dos parâmetros próprios ao exercício do cargo", completou.