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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que muda com Alexandre de Moraes no comando do TSE

Edson Fachin e Alexandre Moraes - Reprodução
Edson Fachin e Alexandre Moraes Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

16/08/2022 04h00

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Os discursos de Alexandre de Moraes e Edson Fachin são alinhados. Ambos pregam o fim da disseminação de notícias falsas e do discurso de ódio nas campanhas. Ambos também combatem de forma firme as críticas do presidente Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral. Então: o que muda, na prática, com a saída de Fachin e a entrada de Moraes no comando do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)?

A grande diferença entre os dois é que Fachin não tem muita interlocução com o meio político nem com os militares. Moraes, por sua vez, tem relação estreita com os dois universos. Portanto, apesar de ter sido alçado a um dos principais adversários do presidente Jair Bolsonaro, a expectativa é que Moraes inaugure nesta terça-feira (15) uma gestão de diálogo mais intenso com o governo e aliados.

Fachin tem perfil mais discreto. Levou meses até começar a responder aos ataques de Bolsonaro ao TSE e à urna eletrônica. Moraes tem um estilo mais direto - e, por isso, incomoda mais Bolsonaro. O ministro atingiu apoiadores do presidente em decisões tomadas no STF (Supremo Tribunal Federal). Bloqueou contas em redes sociais e mandou prender quem ataca integrantes do Judiciário.

Embora não tenha comparecido pessoalmente aos atos em defesa da democracia na semana passada, Moraes demonstrou apoio ao movimento em sua conta no Twitter na semana passada. Bolsonaro criticou os atos - que chamou de "micareta do PT".

Moraes e Bolsonaro já protagonizaram embates públicos inflamados. Em resposta às decisões tomadas nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, Bolsonaro discursou várias vezes contra o ministro. Em agosto do ano passado, pediu o impeachment de Moraes ao Senado. O caso foi arquivado dias depois.

Na presidência do TSE, Moraes não planeja bater de frente com o presidente da República. Ao contrário. Ele deve reforçar o diálogo com pessoas ligadas a Bolsonaro - como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o procurador-geral da República, Augusto Aras. A ideia é tentar arrefecer os ânimos diante de um ambiente político conflagrado.

Moraes tem também planos de pacificar a relação da Justiça Eleitoral com os militares. O ministro tem bom diálogo com o comando das Forças Armadas e deve usar esse trunfo para tentar atrair o apoio político dos militares. Fachin hoje descarta receber representantes das Forças Armadas em reunião fechada para discutir as eleições de outubro. A esperança dos militares é que eles sejam mais prestigiados na nova gestão do TSE.

Moraes pertenceu aos quadros do PSDB e foi secretário municipal de Transportes da cidade de São Paulo (de 2007 a 2010) na gestão de Gilberto Kassab. Também foi secretário estadual de São Paulo na gestão Geraldo Alckmin em duas pastas: Defesa da Cidadania (2002 a 2005) e Segurança Pública (2014 a 2015).

Ainda que preze pelo diálogo, Moraes promete não relevar radicalismos. No mês passado, proibiu que canais bolsonaristas façam postagens que associem o PT ao fascismo, ao nazismo ou ao crime organizado. Há duas semanas, mandou prender um apoiador de Bolsonaro por ameaças a ministros da Corte e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre ministros do STF e do TSE, a postura firme de Moraes é bem avaliada.