Carta imaginária de um ex-juiz aos amotinados do Ceará
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Caríssimos senhores policiais amotinados:
Antes de mais nada, gostaria de manifestar meu mais profundo apreço por vossas senhorias. Apesar de permanecerem há vários dias sem cumprir a tarefa para a qual ingressaram na PM, sei que são profissionais dedicados.
Mesmo agindo de forma assemelhada a facções de presídios, escondendo o rosto sob balaclavas, atacando as viaturas de seus colegas que insistem em trabalhar e incendiando o patrimônio de quem os critica, reconheço que têm que ser valorizados.
Sei muito bem que querem cumprir a lei e não violá-la. Apesar disso, uns governadores me pediram para transmitir a seguinte mensagem: a paralisação é ilegal. Não sou eu que o digo, mas um livro de regras editado em 1988 que nos obrigam a seguir.
Compreendo que pretendam melhorar a remuneração, apesar de terem salário que equivale ao dobro do que recebem os homens da Força Nacional de Segurança. Mas quem tem a responsabilidade de resolver o problema é o estado do Ceará, não a União federal. Torço de longe pelo desfecho.
Os soldados que mandei ao Ceará não irão incomodá-los. Dei ordens expressas para que tratem somente do policiamento das ruas.
Mas, caso não saibam, informo que a paralisação é ilegal, não deveria ser feita e deve ser interrompida o mais brevemente possível.
Apesar disso, divido com vocês uma convicção. Acho que o policial não pode ser tratado de maneira nenhuma como um criminoso. Mesmo que cometa crimes, como acontece agora.
Concordam?
Tenho certeza de que tudo se resolverá em breve. Torço para que efeitos colaterais do movimento, como a ocorrência de um homicídio por hora, a onda de assaltos aos cidadãos e a invasão de uma escola por parte dos policiais, sejam superados logo.
Aqui me despeço, colocando-me à disposição.
Atenciosamente,
Um ex-juiz
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