Sob o sol de Brasília, Bolsonaro exterminou a última esperança
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Assim que o resultado da última eleição presidencial foi anunciado, uma grande dúvida tomou conta do mundo político. Jair Bolsonaro manteria o estilo agressivo e desrespeitoso que exibiu durante toda a carreira de deputado ou vestiria o figurino de estadista que o cargo exige?
Houve quem acreditasse que as ofensas, declarações preconceituosas e elogios à ditadura fossem apenas script de um personagem que Bolsonaro interpretou por quase 30 anos na Câmara dos Deputados para agradar a seus eleitores. Uma vez na Presidência, ele seria menos rancoroso e mais equilibrado.
Bastaram os primeiros discursos raivosos para essa esperança cair por terra.
A partir daí, imaginou-se que os generais convocados por Bolsonaro para o governo seriam capazes de injetar alguma compostura no presidente. Afeitos à disciplina e discrição, os oficiais estrelados poderiam, quem sabe, conter os arroubos do chefe do Executivo.
Depois que alguns generais foram destratados por Carlos Bolsonaro e acabaram expelidos de forma constrangedora do governo, tal esperança também foi para o brejo.
A seguir, a aposta era que Bolsonaro entendesse que suas explosões de insensatez espantariam os investidores internacionais. A perspectiva de falta de dinheiro no mercado poderia fazer o mandatário segurar a língua.
Nada disso. O presidente manteve o estilo incendiário. Não deu a mínima para a fuga recorde de capitais verificada no ano passado e que continua em 2020. Mais uma esperança virou pó.
Depois de tantas frustrações de expectativa, quando se acreditava que o presidente já teria revelado o pior de si e manteria o padrão até o fim do mandato, Bolsonaro conseguiu surpreender até os mais pessimistas.
Além de inflamar o discurso autoritário de bolsonaristas ensandecidos, também na área da saúde pública foi na contramão de tudo o que um chefe de Estado deve fazer. Deu a todo o Brasil uma mensagem de que os cuidados divulgados com tanto esforço pelos médicos em tempos de coronavírus não passam de balela.
Fez isso comparecendo à manifestação, mesmo sob suspeita de ter sido contaminado pelo vírus, e também dizendo em entrevista à CNN Brasil que as notícias sobre a pandemia são "histeria" e que já passamos por epidemias piores.
Os fatos desse domingo exterminaram qualquer ilusão.
Nem se fala aqui de sensatez, discernimento ou empatia. O que se esperava era que Bolsonaro demonstrasse ao menos um mínimo de sanidade.
Ontem, sob o sol de Brasília, viu-se que essa esperança também foi desintegrada. Para um país que está prestes a enfrentar um dos maiores desafios epidemiológicos da história, a notícia não poderia ser pior.
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