A surdez de Bolsonaro e Guedes em meio à crise
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Desde o início do governo, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, deram demonstrações de que têm dificuldade de ouvir. Começaram a gestão com receitas prontas (Bolsonaro interessado no confronto ideológico e Guedes fixado no que aprendeu nas aulas em Chicago) e nunca aceitaram qualquer sugestão que os contrariasse.
Nem o surgimento da pandemia do coronavírus fez com que mudassem de postura. Nessa hora crítica, o presidente repetidamente minimiza a doença, enquanto o mundo inteiro vai na direção inversa. Fala em união de todos, mas sem se dispor a sentar à mesa com os governadores.
Por sua vez, o ministro não dá bola para os apelos de especialistas por maior ajuda do governo aos trabalhadores e empresários e também segue o caminho contrário. O resultado é a Medida Provisória que permite a suspensão por quatro meses dos contratos de trabalho.
Seria irônico, se não fosse trágico, que essa iniciativa inédita no planeta seja tomada justamente sob justificativa de proteger a economia. Com trabalhadores sem renda para consumir e manter a subsistência, que economia restará ao fim de quatro meses?
Economistas brasileiros estão no topo das maiores instituições privadas e de organismos internacionais. Nenhum deles se furtaria a atender a um chamado do governo para dar sugestões melhores para superar a crise. O ministro, no entanto, quer dialogar apenas com quem concorda com ele.
Não deu a mínima aos que pediam que o governo desembolsasse mais recursos para ajudar diretamente o trabalhador. Ou acredite que a irrisória "ajuda" de R$ 200 (talvez o mesmo que o ministro paga numa conta de almoço) seja suficiente para alguém fazer milagre de alimentar a família?
A nova MP é fruto da fé inabalável de Guedes na premissa de que quanto menor a ação do Estado melhor será o desempenho da economia, não importa o tamanho da crise.
Enquanto isso, Donald Trump, ídolo do presidente brasileiro, faz o inverso. Se dispõe a pagar salários e contas de trabalhadores de alguns setores enquanto durar a pandemia.
Na área da Saúde, o Brasil tem excelentes médicos e cientistas, profissionais reconhecidos internacionalmente por sua qualidade. Antes de formar juízo sobre a extensão da pandemia, Bolsonaro poderia ouvi-los, conversar com eles, ao invés de sair por aí falando em "histeria".
Também a classe política, tão atacada pelo presidentes e sua trupe do gabinete do ódio, tem dado sinais de que está aberta a conversar.
Ontem mesmo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, divulgou carta aberta sugerindo harmonia para enfrentar "a maior crise da história recente de nosso país." Com razão, pediu o fim de "acusações e mal-entendidos" ocorridos nos últimos dias entre autoridades. "O povo brasileiro merece o melhor de todos nós", afirmou.
Mais uma vez, o presidente não ouviu. Em entrevista à TV Record, à noite, chamou os governadores de "exterminadores de emprego", por insistirem em tentar isolar seus territórios (medida que governantes do mundo todo estão tomando). Voltou a minimizar a gravidade da pandemia.
Bolsonaro e Guedes não escutam ninguém. Nem mesmo parecem ter ouvido o estridente barulho dos panelaços da última semana — o presidente disse terem sido fabricados pela Globo. A enfermidade auditiva dos dois já está custando muito caro ao Brasil.
É preciso que o presidente e o ministro se curem logo por si, ou o remédio para essa surdez será muito mais amargo para todos.
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