Topo

Chico Alves

Atos pró-intervenção podem repelir apoio militar ao governo, dizem generais

Faixas com ataques ao Congresso Nacional e ao STF em Brasília - Felipe Pereira/UOL
Faixas com ataques ao Congresso Nacional e ao STF em Brasília Imagem: Felipe Pereira/UOL

Colunista do UOL

29/05/2020 12h17

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Organizadores das manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e defesa de pautas antidemocráticas, como fechamento do Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), mudaram de tática. No lugar de realizar atos somente nas proximidades do Palácio do Planalto, em Brasília, como acontece há várias semanas, estão convocando dessa vez para protestos à frente de quartéis das Forças Armadas em todo o país.

O convite circula em grupos de WhatsApp bolsonaristas, com endereço e fotos de cada quartel, além do texto: "Apoio ao Presidente Bolsonaro e as FFAA. Fora Congresso Nacional e STF. Diga não ao comunismo. Compareça na frente do quartel". Estão marcadas manifestações desse tipo para o próximo domingo e para o seguinte.

A ideia de levar ativistas para a porta dos quartéis foi condenada por quatro generais (três da reserva e um da ativa) ouvidos pela coluna.

"É uma insensatez que está se tornando normal, uma apologia perigosa", critica o general Maynard Santa Rosa, que até novembro era titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro. Ele diz que não existe a mínima chance de adesão dos aquartelados aos protestos.

"Se insistirem nisso, o tiro poderá sair pela culatra. O estímulo à indisciplina pode forçar o Exército Brasileiro a sair da zona de conforto", afirma Santa Rosa. O que isso representaria na prática? "Talvez uma atitude de afastamento deliberado do governo", explica.

Um general da ativa que falou sob anonimato confirma que o envolvimento do nome das Forças Armadas em seguidas ameaças de ações antidemocráticas tem deixado "desconfortável" o oficialato. Concorda que, se continuar dessa forma, a instituição pode enviar sinais de desagrado ao Poder Executivo. Um exemplo hipotético de uma dessas sinalizações poderia ser a reversão (ordem de retorno ao quartel) de algum dos generais da ativa que estão no governo, como o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, por exemplo.

Outro general da reserva ouvido perguntou apenas: "O que os quartéis têm a ver com essas pautas?".

O deputado General Petterneli (PSL-SP), que foi o coordenador de várias candidaturas de militares no partido, acha que o momento é de se voltar para outras prioridades. "O país precisa pensar em superar o coronavírus e retomar o crescimento", opina ele. "Precisamos de serenidade e união"