Boa notícia: bandeiras de partidos voltam às manifestações de rua
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Um dos estragos que o furacão das manifestações de 2013 causou à vida nacional foi extrair dos protestos de rua as bandeiras e os discursos dos partidos políticos. No clima de demonização das legendas que reinava então, qualquer um que fosse identificado como ligado a algum grupo partidário era imediatamente expulso, muitas vezes com violência.
A aversão aos partidos ainda hoje é significativa e até certo ponto compreensível. Durante os últimos anos, a sequência de episódios escabrosos em que parlamentares e integrantes do Executivo se meteram levou o brasileiro a questionar se resta espaço entre uma maracutaia e outra para que cuidem do bem-estar do povo, algo que deveria ser sua única tarefa.
O problema é que, ao generalizar essa imagem negativa, a sociedade ignora os políticos que trabalham séria e honestamente para aprovar leis ou tomar medidas que são fundamentais para o país. Muitos dos eleitos se empenham para honrar os votos que tiveram. Ignorar isso é abandonar esses bem-intencionados à própria sorte em ambiente inóspito.
Talvez por conta dessa descrença, nos últimos sete anos parece ter decaído bastante a participação dos jovens identificados com o centro e com a esquerda na vida político-partidária. A direita, pelo contrário, aumentou seu contingente. Esse desequilíbrio teve consequências claras na última eleição, com o bolsonarismo dando um passeio nos adversários.
Depois de um tempo atônita, a oposição começa a se mexer. Apesar dos riscos da pandemia do coronavírus, faz agora manifestações que são muito maiores que as governistas. A boa novidade verificada nos protestos de ontem foi o retorno das bandeiras dos partidos às ruas. Foi assim tanto no ato em São Paulo quanto na gigantesca manifestação em Porto Alegre.
Espera-se que esse movimento continue.
Por mais que os partidos tenham problemas, somente através deles é possível fazer leis e administrar governos. Não inventaram ainda outra forma. Fingir que as legendas não existem é renunciar a influir nos destinos do país.
A direita sabe disso e não esconde suas bandeiras partidárias. Agora, os manifestantes de esquerda emitem sinais de que reaprenderam esta lição. No entanto, só o tempo dirá se isso vai se manter.
Seja como for, uma coisa é certa: imaginar uma sociedade "sem partido", como muitos queriam em 2013, não é uma utopia, mas sim uma distopia em grau máximo.
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