Qualidade da ciência brasileira possibilita produção da vacina contra covid

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Depois de muitos meses de más notícias, os brasileiros finalmente tiveram uma boa nova: o acordo fechado pelo Ministério da Saúde com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca para transferência de tecnologia de uma vacina contra a covid-19. Em meio às expectativas otimistas, é preciso destacar que, mesmo sob um governo que repetidamente nega a importância dos cientistas, foi a ciência brasileira que possibilitou esse avanço.
"O acordo só existe porque, ao contrário de outros países latino-americanos que nos anos 80 e 90 fecharam suas fábricas públicas de produção de vacinas e soros, o Brasil fez o caminho inverso", explica José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde. "Naquele momento, tivemos um programa nacional de autossuficiência e imunobiológicos que investiu mais de US$ 100 milhões em vários laboratórios públicos, entre eles Butantan e Biomanguinhos".
Graças a esse esforço, os dois laboratórios produzem vacinas importantes, modernas, de tecnologias complexas. "Já duram décadas essas parcerias que transformaram o Brasil em um player extremamente importante", destaca ele.
Para chegar a esse ponto, é preciso um acúmulo de conhecimento, expertise, boas práticas de produção, controle de qualidade e profissionais qualificados, algo que leva muitos anos e esforço para montar, estruturar e validar. Como se vê, valeu a pena o esforço dos pesquisadores e dos governantes que os apoiaram (uns mais, outros menos).
Para quem tem um mínimo de sanidade mental, não faltam evidências de que o trabalho dos cientistas brasileiros está entre os melhores do mundo, especialmente na área da saúde pública.
Isso vem sendo provado desde Oswaldo Cruz (com a vacinação contra a febre amarela e varíola), passando por Carlos Chagas (que promoveu a cura da doença de chagas),até à luta contra a zika (em que o Brasil foi liderança global em todos os aspectos).
Na pandemia do H1N1, o Brasil ganhou elogios da comunidade médica internacional ao vacinar 100 milhões de pessoas no início de 2010.
"Neste momento, o país testa em fase 3 uma vacina contra a dengue que poderá ser a primeira em termos globais que realmente proteja contra a doença", afirma o ex-ministro Temporão, que é pesquisador da fundação Oswaldo Cruz.
Foi esse know-how, acumulado por décadas, que permitiu que o Brasil tivesse condições de fechar a atual parceria para a produção da vacina contra a covid-19. É hora de o governo parar detratar o trabalho dos pesquisadores como "balbúrdia" e finalmente intensificar o investimento de recursos nessa área tão importante.
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