Topo

Chico Alves

Os colaboradores de Bolsonaro não serão esquecidos pela história

Reunião ministerial 22 de abril - Marcos Corrêa/PR
Reunião ministerial 22 de abril Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

09/07/2020 12h46

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido


O julgamento da história não tem nenhuma importância para Jair Bolsonaro. Pela forma de agir do presidente, vê-se que não dá a mínima para o conceito que as próximas gerações terão do seu governo. Talvez cultive pequena esperança de ser lembrado como um dos cabeças da chamada "alt right" - a direita hidrófoba - no Brasil. Mas não deve gastar mais que um segundo pensando nisso.
Bolsonaro não age para a posteridade, mas por instinto.

Ao seu redor, porém, certamente há quem se preocupe com o crivo histórico. Mesmo em um ministério que tem Damares Alves e Ernesto Araújo deve existir aqueles que mantêm algum resquício de sensatez. Assim como entre os generais que obedecem tudo que Bolsonaro manda fazer é possível haver quem se constranja com suas maluquices. O mesmo quanto aos parlamentares que apoiam o governo no Congresso: nem todos o fazem em troca da liberação de emendas.

A esses personagens do entorno de Bolsonaro os brasileiros do futuro certamente deverão dedicar atenção ao revisitarem os textos, vídeos e fotos publicados sobre o que acontece nos dias de hoje.

Distante muitos anos de nossa época conturbada, certamente terão dificuldade de entender muitas coisas.

Como explicar que o presidente da República tivesse ligada a seu gabinete e a dois de seus filhos uma rede de disseminação de fake news e discurso de ódio contra adversários que começou na campanha e continua ativa até hoje?

Qual o argumento convincente para que, em meio à maior pandemia da história, Bolsonaro vete a obrigatoriedade do uso de máscaras em transportes públicos, estabelecimentos comerciais e presídios?

De onde tirar justificativa para o veto do presidente à obrigatoriedade de acesso de indígenas e quilombolas à água potável, itens de higiene, leitos hospitalares de UTI e materiais informativos sobre a covid-19?

Há muitas outras medidas nonsense: da redução do controle de armas e munição ao extermínio da estrutura de fiscalização da devastação na Amazônia, passando pela proposta de extinção de multa para motoristas que não levem bebês nas cadeirinhas.

A coleção de sandices é digna de um vilão de filme antigo.

Bolsonaro, já se sabe, é assim e não vai mudar. E os que trabalham com o presidente? Concordam silenciosamente com essas vilanias por fidelidade, conveniência, puxasaquismo ou o que?

É certo que a luta para se manter no poder é árdua e muitos desses auxiliares estão hoje exclusivamente empenhados nessa tarefa. Recomenda-se, no entanto, aos que se preocupam com a própria biografia que se afastem do fanatismo bolsonarista para olhar esse governo à distância.

Um bom exercício é tentar identificar os motivos que fizeram o país virar alvo de críticas e galhofas em todo mundo. Até mesmo o brother Donald Trump usa o Brasil como paradigma de fracasso no enfrentamento ao coronavírus e agora o Congresso americano alerta para o risco que representa à democracia.

Sim, Bolsonaro é o rei da destruição, mas aqueles que o ajudam não passarão anônimos. Nenhum presidente, por mais poderoso que seja, consegue deixar semelhante rastro catastrófico sem que muitos no seu entorno colaborem com esse projeto.

No começo, poderiam até alegar que não sabiam a que ponto Bolsonaro chegaria. Um ano e meio depois, porém, já não podem ignorar o grau de periculosidade que o presidente representa para o país.

Os nomes desses apoiadores estarão no foco quando um estudante ou pesquisador qualquer abrir um e-book de história daqui a algumas décadas para tentar responder à pergunta que muitos estarão se fazendo: "Mas o que diabos aconteceu com o Brasil?"