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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ideias nazistas circulam perigosamente no governo Bolsonaro

Beatrix von Storch e Bolsonaro - Reprodução/Instagram
Beatrix von Storch e Bolsonaro Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

09/02/2022 12h00

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Enquanto Monark sofre as consequências das barbaridades que falou sobre nazismo no Flow Podcast, é preciso lembrar que ele não está sozinho. Existem inúmeras pesquisas para provar o crescimento no Brasil de grupos que acham válido divulgar as ideias abjetas de Hitler e até adotar suas práticas. Mais grave: representantes do neonazismo e propagadores de seus conceitos estão perigosamente relacionados ao governo federal.

Imagine o que aconteceria se Monark recebesse em seu podcast a deputada alemã e vice-líder do partido Alternativa para Alemanha (AfD), Beatrix von Storch. A AfD é uma agremiação de extrema direita, cujos integrantes são acusados de compartilhar ideais nazistas e de minimizar os crimes praticados pelo Terceiro Reich. Beatrix é neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler.

Não foi o ex-apresentador do Flow que recebeu a líder do AfD, mas sim o presidente Jair Bolsonaro quem esteve com ela, em julho do ano passado. Depois de recepcioná-la no Palácio do Planalto, apareceu sorridente em fotos ao lado da parlamentar alemã. Também a deputada Bia Kicis e o deputado Eduardo Bolsonaro conversaram com Beatrix e foram fotografados com ela.

O fato foi criticado por entidades como o Museu do Holocausto e a Confederação Israelita do Brasil (Conib). Bolsonaro alegou que não conhecia "a ficha" da parlamentar alemã. É inverossímil que um presidente receba em seu gabinete uma política estrangeira sem saber de quem se trata.

Não são poucos os episódios em que integrantes do governo Bolsonaro propagaram as ideias e a simbologia nazista ou fascista. O caso mais explícito foi o do secretário nacional de cultura Roberto Alvim, que gravou vídeo com estética nazi, repetiu trechos do discurso de Joseph Goebells, um dos mais poderosos ministros do Reich, tendo como trilha sonora uma ópera de Wagner, compositor associado aos ideais de Hitler. Ainda usou no cenário uma cruz medieval, outro símbolo dessa ideologia totalitária. A performance causou a demissão de Alvim.

Há também as repetidas manifestações do ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República Filipe Martins, que chegou a ser denunciado pelo Ministério Público Federal por fazer um gesto supremacista branco em pleno Senado. Acabou absolvido, mas, como mostrou o MPF, tem outras atitudes a esclarecer.

Pelo menos em duas oportunidades, quando Bolsonaro ganhou as eleições e quando tomou posse, Martins usou nas redes sociais a frase em latim "Deus vult", que significa "Deus quer". A expressão foi dita pelo papa Urbano II, ao anunciar a primeira Cruzada de cristãos para dominar o território onde hoje se localiza Israel. Atualmente, a frase é usada por integrantes da extrema-direita, que se espelham em símbolos das cruzadas para defender a superioridade de grupos brancos, cristãos e conservadores.

Outra expressão usada por Martins nas redes sociais é "Oderint dum metuant", cuja tradução é "Que odeiem, desde que temam". Criada pelo poeta romano Lúcio Ácio, foi apropriada pelo grupo neonazista alemão "Combat 18".

Martins não está mais no governo, mas nada indica que tenha deixado de frequentar os grupos de apoio ao presidente.

Ideias do regime totalitário alemão orbitam perigosamente no entorno de Bolsonaro - o discurso recorrente de que os adversários não devem apenas ser vencidos nas urnas, mas sim eliminados é uma das provas disso. Volta e meia se materializam em referências históricas, como quando, em junho de 2020, o presidente compartilhou nas redes sociais um vídeo para criticar o isolamento social que continha uma frase do ditador fascista e aliado italiano de Hitler, Benito Mussolini: "Melhor viver um dia como leão que cem anos como cordeiro".

O estilo autoritário é algo natural em Bolsonaro, mas as citações que demandam alguma leitura dos livros de História não são o seu forte, como se sabe. É preciso identificar de onde partem sugestões como essa da frase fascista. Conselheiros assim não podem exercer influência sobre o presidente do Brasil.