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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nem o pioneirismo da vacina contra covid-19 salvou a candidatura de Doria

17.01.2021 - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a enfermeira Mônica Calazans, primeira pessoa vacinada com a CoronaVac - DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
17.01.2021 - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a enfermeira Mônica Calazans, primeira pessoa vacinada com a CoronaVac Imagem: DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

23/05/2022 19h41

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O terrível quebra-pau que expôs em praça pública as vísceras do PSDB foi apenas o último capítulo da derrocada de João Doria. Na base do fracasso está a constatação de que o ex-presidenciável tucano foi alvo de monumental rejeição dos eleitores. Um grande mistério. Ninguém deu até agora explicação plausível para essa transformação do ex-governador paulista em fenômeno negativo, já que a gestão Doria teve excelente desempenho em áreas importantes.

A economia foi uma delas — o PIB de São Paulo cresceu cinco vezes mais que o do Brasil em três anos.

Mas o principal feito de Doria aconteceu na área da Saúde. Em meio à maior pandemia da história da humanidade, ele enfrentou a insólita resistência de um presidente da República negacionista para oferecer à população a primeira vacina contra a covid-19. Foi por causa da sua insistência e obstinação que o Instituto Butantan passou a fabricar a CoronaVac, o que, por tabela, pressionou o governo federal a acelerar o processo de aquisição e distribuição da AstraZeneca.

Não fosse pela determinação de Doria, o Ministério da Saúde provavelmente demoraria um bom tempo para vacinar os brasileiros. Como se sabe, em época de pandemia ganhar tempo é sinônimo de evitar mortes.

Ao contrário de Jair Bolsonaro, o governante paulista fez o que devia ser feito.

A campanha negacionista do presidente não impediu que os brasileiros corressem para os postos de saúde assim que a CoronaVac ficou disponível. O alto índice de vacinação alcançado no país, apesar da torcida contrária por parte dos olavistas, foi o atestado de reconhecimento desse esforço.

Algum tempo depois, passado o período mais agudo da covid-19, a façanha de Doria já tinha virado algo trivial.

A vacina teve para o ex-governador de São Paulo a mesma importância que o asfalto tem para um prefeito em tempo de eleição municipal: todo mundo lembra quando não tem, mas esquece quando tem.

No mais, a rejeição de Doria parece ser consequência da enorme campanha difamatória que os bolsonaristas detonaram contra ele. Algo de que o tucano não pode reclamar, já que ele próprio, nos tempos em que ainda propagava a chapa BolsoDoria, também lançou mão. Os adjetivos que dirigiu ao ex-presidente Lula e outros petistas em 2018 não ficaram nada a dever à grosseria de Bolsonaro.

Depois de excluir os eleitores de esquerda, Doria perdeu seu único patrimônio de votos quando brigou com os bolsonaristas.

Ao desistir de concorrer à Presidência da República, o ex-governador deve ter-se arrependido profundamente de não ter seguido a tradição dos tucanos.

Certamente ganharia mais se tivesse ficado em cima do muro.