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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Esquema do MEC tem participação direta de Bolsonaro e potencial devastador

Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro durante evento no Palácio do Planalto em 4 de fevereiro - Getty Images
Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro durante evento no Palácio do Planalto em 4 de fevereiro Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

22/06/2022 10h06

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Há algum tempo Jair Bolsonaro parou de dizer que seu governo não tem corrupção. Essa afirmação apareceu pela última vez há 20 dias durante o horário político do PL na TV, no meio de um slogan que o presidente da República leu sem convicção. Em tempos de orçamento secreto, com R$ 20 bilhões entregues nas mãos do Centrão, sem qualquer controle, ficou mais difícil sustentar que os recursos públicos estão a salvo de maracutaias.

Antes mesmo das acusações de superfaturamento em compra de tratores, caminhões de lixo e ônibus escolares empenhados com verba das tais emendas de relator, Bolsonaro já não tinha como convencer o eleitorado da lisura de seu governo. Desde as acusações contra Ricardo Salles, que comandou o Ministério do Meio Ambiente e deixou a pasta sob denúncia de parceria com contrabandistas de madeira da Amazônia, até a interferência na Polícia Federal para tirar do caminho delegados que investigavam seus filhos, são muitos os indícios de corrupção na gestão atual.

Nenhum, porém, é mais claro e devastador do que se vê no esquema dos pastores do MEC. No áudio, revelado pela Folha de S. Paulo, em que o então ministro Milton Ribeiro admitia privilegiar em sua pasta as demandas dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ele citava com todas as letras o nome do pistolão que abriu a porta do ministério aos religiosos: Jair Bolsonaro. Sem que o presidente da República indicasse a Ribeiro aqueles dois personagens estranhos ao serviço público, com a recomendação de que desse prioridade às suas demandas, não seria possível a eles intermediar recursos do MEC junto a prefeituras e muito menos cobrar propina por isso.

As prisões efetuadas hoje pela Polícia Federal, do ex-ministro Milton Ribeiro e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, devem ajudar a esclarecer muita coisa sobre essa tramoia. Especialmente fazer com que os brasileiros entendam qual o interesse do presidente da República em infiltrar esses dois pastores no MEC. Por que Bolsonaro deu a eles o poder de decidir para quais prefeituras deveriam ser encaminhadas verbas do ministério? Além disso, descobriu-se depois, ambos circulavam com muita intimidade no Palácio do Planalto, em compromissos até agora não explicados.

Diferente das outras denúncias de corrupção, o esquema do MEC leva diretamente a Bolsonaro. Em plena temporada eleitoral, não poderia haver presente maior para seus adversários, que certamente vão explorar o episódio na campanha.

Na época em que o escândalo veio à tona, o presidente, acostumado a terceirizar a culpa dos malfeitos, tentou desviar a atenção, dizendo que "botava a cara no fogo" por Milton Ribeiro — como se no centro das suspeitas não estivesse ele próprio.

Após as prisões de hoje, Bolsonaro pareceu um tanto aturdido ao comentar o assunto. Voltou a balbuciar sem convicção o lema "corrupção zero", falou em compliance do governo e, depois de citar que Ribeiro "estaria com conversa meio informal demais" com algumas pessoas, declarou: "Nós afastamos ele". O presidente mentiu: foi Ribeiro quem pediu para deixar o governo.

Diante disso, resta saber se o ex-ministro, agora no xilindró, vai se manter com a cara no fogo por Bolsonaro.

Essa pergunta certamente vai motivar muitos pesadelos no Palácio da Alvorada daqui para a frente.