Topo

Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Organizador de grupos golpistas diz que major impediu que fosse preso

Colunista do UOL

16/01/2023 12h03

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Entre os investigados por organizar o transporte de grupos golpistas a Brasília - que no dia 8 de janeiro participaram da depredação das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário —, está Walter Parreira. Em vídeo gravado dentro de um coletivo, ele próprio anunciou ter organizado uma caravana com 50 ônibus que saíram de Santos. O objetivo, explicou, era "ocupar Brasília e ficar lá até a hora do nosso desfecho, da nossa vitória", e anunciou: "Vamos para a frente de combate, vamos para o front".

Parreira aparece no vídeo feito no dia da invasão em meio aos agressores de um policial que estava a cavalo tentando conter os golpistas. Após a depredação e a chegada do reforço policial, ele voltou para o acampamento à frente do QG do Exército. No dia seguinte, muitos dos terroristas que estavam ali foram presos pela Polícia Militar, mas Parreira continuou em liberdade.

Em vídeo gravado no ônibus que o levou de volta a Santos, ele mesmo explicou como escapou da prisão quando a PM chegou. "Felizmente, fomos orientados por um major, não vou falar o nome dele, mas ele sabe que nos ajudou, a seguir por um caminho alternativo que nos libertou e, consequentemente, consegui trazer esse pessoal para Santos", admitiu. Não é possível identificar se ele se refere a um major do Exército ou da PM do Distrito Federal.

Na gravação, onde alega estar retornando de um "congresso Seicho-No-Ie", ele propaga a mentira de que a destruição dos prédios do Executivo, do Legislativo e do Judiciário foi feita por "infiltrados" e compara a prisão dos golpistas ao martírio dos judeus na Alemanha nazista.

"Essa passagem me faz lembrar os judeus sendo levados naqueles vagões de gado para Treblinka, Sobibor, Dachau e os demais campos de concentração nazistas. A cena foi a mesma", exagera.

Trata os militares das Forças Armadas e Polícia Militar como "irmãos em armas e almas" e termina dizendo que "não podemos permitir que nosso Brasil caia nas mãos da esquerda" e que, "como em 64", tem obrigação de salvar a pátria.

Walter Parreira se apresenta nas redes sociais como sócio-proprietário da empresa Ibéria - Espadas Militares, localizada em São Vicente (SP), especializada em fabricar espadas e outras peças militares para as Forças Armadas e réplicas para empresas como a TV Globo. Registros de órgãos legais na internet confirmam a condição de sócio.

A coluna tentou entrar em contato com Parreira pelo telefone da empresa, mas duas atendentes negaram que ele tenha qualquer vínculo com a Ibéria. Apesar disso, quem acessa o site da marca se depara com uma enorme "nota de esclarecimento", com texto em favor do respeito às opiniões — "quaisquer que sejam" - e garantindo que "falas, postagens e/ou atitudes de qualquer pessoa física não refletem, em hipótese alguma, o posicionamento da marca".

O questionamento foi enviado para a área de mensagens das redes sociais de Parreira. As respostas enviadas serão publicadas aqui.

Coordenador do grupo direitista "Trincheira Patriótica", que realizou várias carreatas na região de Santos em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ele agora figura como um dos principais investigados pela PF de organizar caravanas de golpistas a Brasília.