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OPINIÃO

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É tempo de pensar um novo pacto social e ambiental para o Brasil

Juma Xipaya, ativista indígena de Altamira (PA), na COP 26 - UOL
Juma Xipaya, ativista indígena de Altamira (PA), na COP 26 Imagem: UOL

Colunista do UOL

05/11/2021 08h58

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* Marcela Moraes

A COP 26 começou e nela lideranças do mundo inteiro discutem metas e ações para combater as mudanças climáticas. No Brasil, ainda há muitos que pensam que os países do sul não precisam discutir aquecimento global, porque ainda não completaram seu ciclo de prosperidade. Estão errados.

Sim, é verdade que países como Estados Unidos, China e a União Europeia são responsáveis por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (41%) e que uma solução passa necessariamente por eles. Porém, se temos alguma responsabilidade com as próximas gerações, não há mais tempo para seguirmos na contramão de uma economia sustentável.

Entre os que pensam que mudanças climáticas não é assunto de país subdesenvolvido, existe quem diga estar preocupado com o interesse público, com a geração de empregos e com questões sociais. Entendem que sustentabilidade se opõe a desenvolvimento econômico e social. É uma preocupação legítima, porque a resposta para ela não é trivial.

O mundo está discutindo a transição para uma economia de baixo carbono por necessidade. Existe um estado de emergência anunciado, com graves consequências econômicas — não é à toa que um dos setores hoje mais atentos ao problema é o financeiro.

Neste contexto, o Brasil tem vantagens comparativas para repensar seu modelo de desenvolvimento, construindo uma matriz de oportunidades baseada em tecnologia e inovação, com industrialização e geração de empregos em atividades com impactos ambientais positivos — como o turismo, a bioeconomia, o reflorestamento e a ampliação da produção de energia limpa e renovável.

É correto que os países da América do Sul exijam que as nações mais desenvolvidas contribuam com o financiamento da sua transição econômica, mas nós também precisamos de um projeto claro na direção da sustentabilidade e da inclusão social.

Acredito que este projeto deve apontar na direção de uma nova industrialização, com desenvolvimento e uso de tecnologias, mas com políticas públicas que também garantam condições para uma requalificação e recolocação profissional daqueles que hoje atuam em atividades que oferecem risco ao meio ambiente.

Crise demanda soluções sistêmicas

As soluções precisam ser sistêmicas e capazes de atender às urgências daqueles que estão preocupados com a sobrevivência e com a inserção no mercado de trabalho, mas sem deixar de considerar que o mundo mudou e as urgências aumentaram. Sustentabilidade ambiental é, também, uma questão de justiça social. Com a grave crise provocada pela pandemia, aprendemos que os mais vulneráveis são sempre os primeiros a serem afetados.

O desafio é complexo e a resposta exige firme liderança do Estado. Precisamos reconstruir a esfera pública no Brasil, o mercado não resolverá esse problema somente por autorregulação. No entanto, as saídas, para ganhar legitimidade e apoio da sociedade, devem ser construídas em diálogo com a iniciativa privada, com organizações da sociedade civil e instituições que atuam no campo da pesquisa e do desenvolvimento.

Não há espaço para slogans e discursos vazios. Vivemos momentos sombrios e sabemos bem que o cenário político não é favorável para a sustentabilidade. No entanto, não há escolha. Mesmo cansados, e por vezes pessimistas, é necessário que aqueles que ainda acreditam no Brasil se posicionem. Precisamos de um novo pacto social e ambiental no país.

* Marcela Moraes é pesquisadora, advogada, mestre em gestão de políticas públicas e diretora de estudos e pesquisas da Fundação Rede Brasil Sustentável.