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OPINIÃO

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Na corrida eleitoral, Lula deveria parar de olhar pelo retrovisor

8.dez.2021 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em discurso - Carla Carniel/Reuters
8.dez.2021 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em discurso Imagem: Carla Carniel/Reuters

Colunista do UOL

20/01/2022 16h34

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* Cesar Calejon

Há uma frase clichê que serve, perfeitamente, para explicar o atual momento da política brasileira e a corrida à Presidência da República, na qual nos encontramos na reta final: "um leão nunca perde o sono pensando na opinião das ovelhas".

Líder isolado nas pesquisas que aferem as intenções de voto para as eleições de outubro, com chances reais de ser eleito ainda em primeiro turno, o ex-presidente Lula deveria parar de olhar pelo retrovisor.

Atualmente, Lula é a força política mais densa de toda a América Latina e uma das principais lideranças da arena internacional. Ao citar pessoas infinitamente menores, como Alckmin ou Moro, seja para tentar compor uma chapa ou para atacar o que entende ser um desafeto, o petista acaba por dar relevância a figuras que estão praticamente anuladas no cenário político nacional.

Veja, por exemplo, qual foi a resposta do presidente estadunidense, Joe Biden, ao ser questionado se o seu antecessor Donald Trump lhe oferecia algum risco: "I don't think about the former president" [Eu não penso no antigo presidente], disse. Sem sequer citar o nome, ele simplesmente ressalta a irrelevância do seu desafeto.

Geraldo Alckmin obteve 4,76% dos votos válidos em 2018 e, no entanto, Lula fala e age como se dependesse do direitista para ser eleito. Moro jamais alcançou sequer a marca dos dois dígitos nas intenções de voto. Lula segue rivalizando-o como se fosse um adversário à altura.

Com o país devastado em todos os sentidos pela sequência trágica de lavajatismo e bolsonarismo que o acometeu ao longo dos últimos seis anos, o ex-presidente, que ocupa a pole position na disputa pelo próximo pleito presidencial, aproveitaria melhor os seus recursos ao se focar, única e exclusivamente, no projeto que pretende colocar em prática a partir de 2023.

Com uma sindemia estabelecida no território nacional, ou seja, múltiplas crises (política, econômica e sanitária) interagindo simultaneamente, os brasileiros estão exaustos com tanto sofrimento e não querem mais saber de intrigas e conflitos, mas de como e quando sairão desse imenso túnel obscuro no qual ingressamos a partir de 2016.

Nesse sentido, o retrovisor é apenas um pequeno espelho retangular que deve ser consultado, exclusivamente, quando outros competidores se aproximam de forma a contestar a liderança, o que, pelos menos até a presente data, não é o caso. Cabe, portanto, direcionar o olhar para o futuro, sobretudo o que nos espera após a provável bandeirada da vitória de outubro.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter) e Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente).