Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Manifestações explicitam diferenças nas campanhas de Lula e Bolsonaro
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* Cesar Calejon
As duas principais correntes sociopolíticas do país vão às ruas neste feriado do dia 1º de maio. De um lado, localizado na centro-esquerda, estará o movimento comandado pelo ex-presidente Lula. Do outro, identificado na extrema-direita, estará o bolsonarismo, personificado pelo atual presidente da República, Jair Bolsonaro.
Para muito além de um embate de forças entre os dois rivais políticos que disputam a Presidência da República, os atos deste domingo oferecem a demonstração mais explícita, até este ponto, de quais ideias e propostas são defendidas por ambos os lados.
Intitulado "Nas Ruas", o ato bolsonarista defenderá o indulto presidencial que foi agraciado a Daniel Silveira, deputado federal condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto o movimento a favor do ex-presidente Lula abordará "o emprego, os direitos, a democracia e a vida" como temas centrais, segundo a definição dos próprios organizadores.
O primeiro acontece na região da Avenida Paulista e o segundo, na Praça Charles Miller. Apesar de estarem separados por apenas três quilômetros de distância no plano físico, existe um universo que os distingue nos âmbitos simbólico e ideológico.
O movimento bolsonarista é organizado por Tomé Abduch, empresário segundo quem "Paulo Guedes é o orgulho da nação". Já o movimento a favor de Lula é composto pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Intersindical - Central da Classe Trabalhadora, e Pública.
Ou seja, trata-se do típico embate de classes que Marx e Engels preconizaram com eloquência ainda no século XIX, conforme também aconteceu durante o carnaval deste ano, quando arquibancada e camarote defenderam as candidaturas de Lula e Bolsonaro, respectivamente. Evidentemente, o bolsonarismo avança os interesses dos empresários e do grande capital transnacional, ainda que, por muitas vezes, não esteja completamente ciente da complexidade deste fato.
Enquanto isso, o lulismo leva as reivindicações dos trabalhadores às ruas e busca dialogar com a população sobre temas que têm afetado, materialmente, o bolso dos brasileiros, num debate sobre desenvolvimento, empregos dignos, justiça social e distribuição de renda, por exemplo.
Durante o feriado que celebra o Dia do Trabalhador, torna-se evidente que o bolsonarismo, além de não ter qualquer interesse em defender os anseios da classe trabalhadora (ampla maioria da população nacional), simplesmente não possui resultados significativos no que diz respeito à melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.
Sob Bolsonaro, os trabalhadores do país deixaram de comer carne, passaram a pagar preços recordes nos combustíveis, no botijão de gás, tiveram as suas condições de trabalho precarizadas e viveram uma piora das suas posições sociais e econômicas em todos os aspectos das suas vidas, fundamentalmente.
Convocar um ato, no Dia do Trabalhador, para celebrar o indulto a Daniel Silveira e reforçar os ataques bolsonaristas contra o STF, sem sequer citar uma pauta referente aos trabalhadores brasileiros, resume bem a natureza do bolsonarismo e do governo que vem sendo exercido por esse movimento desde 2019.
* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter) e Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente).
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