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Forças Armadas não se resumem aos generais bolsonaristas

Jair Bolsonaro e Walter de Souza Braga Netto - Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro e Walter de Souza Braga Netto Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

13/05/2022 22h42

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* Cesar Calejon

Durante os últimos anos, grande parte da imprensa incorreu em um erro perigoso e que interessa imensamente ao governo Bolsonaro: reduzir a voz das Forças Armadas ao que dizem os generais bolsonaristas.

Segundo o site GlobalFirePower, que anualmente compila um indexador intitulado GFP Index e avalia o poder militar de países por todo o planeta, a Marinha, o Exército e a Aeronáutica do Brasil contam, atualmente, com um quadro de 303 oficias da mais alta patente, 360 mil militares, 1,3 milhão de reservistas diretos e mais de 86 milhões de cidadãos que podem ser convocados em situações bélicas.

Evidentemente, as Forças Armadas do Brasil não se resumem aos generais bolsonaristas e todos os brasileiros que se apresentaram ao serviço militar obrigatório ao completarem dezoito anos de idade, sendo dispensados do serviço ou não, formam, em última análise, parte das Forças Armadas nacionais.

Apesar disso, Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, três generais da reserva, ministros do atual governo, têm literalmente pautado todos os posicionamentos das Forças Armadas ao longo dos últimos anos. Muitas vezes, a tríade bolsonarista agiu — e segue agindo — de forma inconstitucional considerando o que consagra o artigo 142 da Constituição Federal de 1988: "a defesa da pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".

Esses generais vêm estimulando o caos e o conflito, colocando em dúvida o processo eleitoral e, por fim, a democracia brasileira, promovendo o atrito entre os poderes constitucionais. Segundo informações da jornalista Andréia Sadi, Marcelo Abrieli, técnico de informática, foi efetivamente "procurado pelo governo Bolsonaro em 2019 e (...) teve reuniões com militares como Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, além do próprio presidente Bolsonaro" para tumultuar as eleições presidenciais, promovendo o descrédito das urnas eletrônicas e de todo o processo eleitoral.

Ainda segundo a jornalista, "Bolsonaro e esses militares são sócios, nas palavras de um investigador, da estratégia do tumulto do sistema eleitoral. (...) Desde 2019, Bolsonaro pediu a assessores, como Ramos, para levantar dados que pudessem alimentar sua teoria. O ministro, então, lembrou de um técnico de informática que o havia procurado em 2018, no auge da eleição presidencial, quando ele ainda era o comandante militar do Sudeste".

Neste contexto, vale a reflexão a cerca de onde estariam os almirantes de Esquadra da Marinha do Brasil, os outros generais do próprio Exército e os tenentes-brigadeiros da Aeronáutica. Seriam todos os líderes das Forças Armadas submissos ou coniventes às intenções golpistas do bolsonarismo?

Caso a resposta para esta questão seja afirmativa, as Forças Armadas do Brasil perderam a sua função constitucional conforme preconizada pela Carta Magna e se tornaram um grupo armado que defende interesses de um clã político por meio da força, da violência e da intimidação, método que caracteriza a atuação das milícias.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).