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Para Elon Musk, reeleição de Bolsonaro interessa imensamente

20.mai.22 - Presidente Jair Bolsonaro (PL) encontra Elon Musk para discutir Amazônia - Divulgação/Redes sociais
20.mai.22 - Presidente Jair Bolsonaro (PL) encontra Elon Musk para discutir Amazônia Imagem: Divulgação/Redes sociais

Colunista do UOL

20/05/2022 15h32

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* Cesar Calejon

No mundo dos negócios e da política não existem coincidências. As palavras, os gestos e, sobretudo, as visitas têm significados e objetivos muito específicos. O bilionário Elon Musk, que atua de forma incisiva nestas duas searas, teve mais de três anos para visitar o presidente Jair Bolsonaro, mas escolheu o momento pré-eleitoral, a pouco mais de quatro meses do pleito presidencial, para consolidar seu movimento.

Nesse sentido, a reeleição de Bolsonaro, que atuou em seu primeiro mandato em defesa dos interesses de uma classe hipercapitalista transnacional, é de suma importância para Musk.

Independentemente do posicionamento político e ideológico de quem as avalia, as ações do governo Bolsonaro falam mais alto do que as palavras do mandatário: as reformas trabalhista, previdenciária, as flexibilizações para a exploração das áreas de preservação e de garimpo, os processos de privatização de empresas estratégicas para o Brasil e diversas outras medidas que foram adotadas demonstram que o bolsonarismo não é um movimento "patriota", absolutamente, mas defende os interesses de um grupo transnacional que deseja expandir os seus poderes ilimitadamente.

Os convidados para o encontro de hoje (20) entre Musk e Bolsonaro demonstram tal fato: André Esteves, Flávio Rocha, Alberto Leite, Ricardo Faria, Zeco Auriemo, Carlos Sanches, Rubens Ometto, Rubens Menin, Rodrigo Abreu, Carlos Fonseca, José Felix, Pedro Labriolla, entre outros, todos homens brancos de grande poder e influência econômica.

No dia 24 de julho de 2020, após ser acusado de ter participado dos planos golpistas que terminaram com a destituição do governo de Evo Morales, na Bolívia, Musk escreveu: "vamos dar golpe em quem quisermos, lide com isso", afirmando, descaradamente, o seu interesse nas reservas bolivianas de lítio, o mineral usado como base para desenvolver baterias e componentes dos carros da Tesla.

Em conversa com Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, que foi registrada em janeiro de 2019, Bolsonaro disse que pretendia "explorar os recursos da Floresta Amazônica com os Estados Unidos". Atônito, Gore simplesmente respondeu que não havia entendido o que o presidente brasileiro queria dizer com aquilo.

No encontro desta sexta, Bolsonaro afirmou que precisa e conta com a ajuda de Musk para tomar conta da maior floresta tropical do mundo e um dos símbolos da soberania nacional brasileira junto à sociedade internacional: "nós pretendemos, precisamos e contamos com Elon Musk para que a Amazônia seja conhecida por todos no Brasil e no mundo, a exuberância dessa região e como ela é preservada", disse.

Ao longo dos próximos meses, essa classe transnacional que, indiretamente, por meio da Operação Lava Jato, e depois, diretamente, com a atuação de grupos como o de Steve Bannon, ajudou a eleger Bolsonaro deverá intensificar os seus esforços no sentido de garantir a reeleição do presidente brasileiro. Com o bolsonarismo, eles têm a raposa cuidando do galinheiro.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).