Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com CPI, Bolsonaro tenta se eximir de responsabilidade pelos preços

* Cesar Calejon
O governo Bolsonaro tornou-se, ironicamente, vítima do livre mercado, modelo econômico que o próprio presidente, junto ao seu ministro da Economia, tem estimulado desde a sua ascensão ao poder.
Adotada pelo então presidente da Petrobras, Pedro Parente, logo após o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) representou um dos pontos centrais do choque de neoliberalismo vira-lata que vem sendo avançado durante os últimos seis anos, mas, sobretudo, entre 2019 e 2022, pelo bolsonarismo.
Agora, faltando pouco mais de três meses para o pleito presidencial e vendo-se confrontando com a iminência de uma derrota acachapante, em alguma medida, por conta do preço dos combustíveis, Bolsonaro quer instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) como instrumento político para tentar se eximir da responsabilidade frente ao preço dos combustíveis.
"Conversei ontem com o líder da Câmara para a gente abrir uma CPI segunda-feira. Vamos para dentro da Petrobras. (...) É inadmissível, com uma crise mundial, a Petrobras se gabar dos lucros que tem", disse o presidente brasileiro no último sábado (18), declaração que, provavelmente, foi decisiva para o pedido de demissão de José Mauro Coelho, presidente da petroleira, nesta segunda (20).
Bravateiro profissional, Bolsonaro sabe que uma eventual CPI não produziria resultados até a eleição e, ainda mais, não geraria qualquer benefício para a população em termos de uma redução dos preços. Seu único interesse é sempre o mesmo: transferir responsabilidades e posar de antissistema, de modo que, na eleição, possa dizer ao eleitor: "o preço está lá em cima, mas eu não deixei de lutar".
Após quatro anos com essa mesma estratégia, o eleitor já se mostra cansado e descrente do discurso bolsonarista, como mostram as declarações de Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente da Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), que acusou o presidente da Câmara, Arthur Lira, de "fake news", após o deputado levar adiante a mesma estratégia.
A essa altura, boa parte da população já sabe que a única maneira de conter a alta dos preços seria encerrar a política de Preço de Paridade Internacional, política essa endossada pelos últimos presidentes da empresa, todos eles indicados por Jair Bolsonaro, que, mais uma vez, paga de "opositor" enquanto, na prática, reza a cartilha econômica que nos trouxe à lama.
* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).
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