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OPINIÃO

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Paliativos eleitoreiros são insuficientes contra a catástrofe bolsonarista

Jair Bolsonaro rindo durante plenária da Cúpula das Américas - Mario Tama/Getty Images
Jair Bolsonaro rindo durante plenária da Cúpula das Américas Imagem: Mario Tama/Getty Images

Colunista do UOL

07/07/2022 06h00

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Cesar Calejon*

A menos de três meses do pleito presidencial que, para muito além de decidir a sua permanência no governo, decidirá o seu próprio futuro e o de sua família, Jair Bolsonaro decidiu implementar uma agenda social de emergência.

Além de botar o ovo, o bolsonarismo pretende cacarejar por meio da Rede Globo, aumentando em 75% o investimento na maior emissora de televisão do país.

Contudo, os estragos causados pelo governo Bolsonaro são demasiadamente profundos e transcendem a seara socioeconômica, que, apesar de ser a mais relevante para a definição do pleito presidencial, não é a única dimensão a ser considerada.

Ao longo dos últimos anos, além de destruir completamente a economia nacional, Bolsonaro zombou da dor das famílias enlutadas pela covid-19, devastou as áreas de preservação e as floretas do país, agrediu as mulheres, os negros, os indígenas e a classe artística de todas as formas possíveis e conduziu o governo mais corrupto e inepto da história do Brasil.

Neste contexto, os paliativos da "PEC Kamikaze" serão insuficientes para contornar a catástrofe bolsonarista. De fato, o que Bolsonaro pretende é terminar de desossar a constitucionalidade brasileira em nome do seu projeto pessoal de poder, assim como fez durante o exercício de todo o seu mandato e, de forma mais ampla, ao longo da sua trajetória parlamentar.

Com as pessoas passando fome e vivendo em uma crise permanente desde que o bolsonarismo ascendeu ao poder, Guedes e Bolsonaro insistiram, reiteradamente, em afirmar que a economia estava forte e o país estava crescendo. Faltando menos de noventa dias para a eleição presidencial, declaram estado de emergência para usar a máquina pública em prol do bolsonarismo.

Ao todo, são mais de R$ 41 bilhões que serão gastos com medidas de emergência para tentar tratar o imenso problema sistêmico que o próprio bolsonarismo e as suas políticas de corte neoliberal causaram. Ou seja, após espancar o povo brasileiro por três anos e meio, o bolsonarismo quer agora utilizar uma espécie de esparadrapo para lidar com as fraturas expostas dos ossos que a sua gestão ajudou a quebrar.

Além disso, a medida eleitoreira em si tem o potencial de desorganizar ainda mais o cenário macroeconômico do país, derrubando os investimentos internacionais e elevando a inflação, o que terminaria por invalidar os próprios recursos recebidos pelas camadas mais empobrecidas da população.

Curioso notar que o termo "Kamikaze" para se referir à PEC foi cunhado pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes. Como todos sabemos, os kamikazes eram aviadores japoneses carregados de explosivos e cuja missão era realizar ataques suicidas contra os navios dos seus inimigos, ante a iminente derrota que se aproximava, nos momentos finais da campanha do Pacífico na Segunda Guerra Mundial.

Assim, tal organização semântica diz muito sobre a intenção do governo com essa medida e como o bolsonarismo avalia a sua própria situação na guerra pela reeleição.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).