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Datafolha testa popularidade das medidas eleitoreiras de Bolsonaro

Ao lado de Ciro Nogueira, Bolsonaro é cumprimentado por Arthur Lira na convenção do PP que oficializou apoio à tentativa de reeleição do presidente  - Adriano Machado/Reuters
Ao lado de Ciro Nogueira, Bolsonaro é cumprimentado por Arthur Lira na convenção do PP que oficializou apoio à tentativa de reeleição do presidente Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

28/07/2022 09h46

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* Cesar Calejon

Pesquisas eleitorais sempre causam agitações no meio político e na sociedade civil, de forma mais ampla. Contudo, faltando pouco mais de 60 dias para a votação do dia 2 de outubro, esse efeito deverá ser potencializado nesta quinta (28).

Hoje, a nova sondagem do Datafolha vai, sobretudo, testar a popularidade das medidas eleitoreiras que o bolsonarismo conseguiu avançar junto ao Congresso Nacional em caráter de urgência, bem como servirá como um termômetro para avaliar algumas das principais narrativas defendidas pelo governo federal.

No último levantamento apresentado pelo instituto, que foi divulgado no final de junho, o ex-presidente Lula aparecia com uma vantagem de 19 pontos percentuais (47% contra 28%) e, caso a eleição tivesse sido realizada naquela ocasião, o petista venceria a contenda ainda no primeiro turno.

Neste sentido, o Datafolha desta quinta-feira é o indicador mais sólido, até este momento, considerando, principalmente, como os benefícios concedidos aos taxistas e caminhoneiros, via Auxílio Brasil e para reduzir o preço dos combustíveis, têm afetado a imagem de Jair Bolsonaro na corrida pela sua reeleição.

Além disso, a pesquisa também refletirá o nível de apoio da população tendo em vista as falas golpistas do bolsonarismo contra as urnas eletrônicas e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante o evento que oficializou a sua candidatura no último domingo (24), Bolsonaro classificou os magistrados da corte constitucional brasileira como "surdos de capa preta" para convocar os seus seguidores para um novo e "último" ato antidemocrático a ser realizado no próximo dia 7 de setembro.

Desta forma, o Datafolha abordará questões que remetem à confiança da população no sistema das urnas eletrônicas, aos ataques do bolsonarismo contra os ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aos intentos golpistas do governo e as suas respectivas consequências.

Ou seja, de muitas maneiras, a pesquisa de hoje traduz o potencial do bolsonarismo de capitalizar em cima da estratégia que foi estabelecida para a reta final do período eleitoral. Caso a diferença entre Lula e Bolsonaro seja substancialmente diferente da que foi apresentada há um mês pela própria pesquisa, este será um sinal claro de que as medidas eleitoreiras e o discurso golpista estão surtindo efeito.

Neste cenário, o próximo passo seria entender qual a extensão do potencial de recuperação que essas ações podem oferecer ao governo bolsonarista nos dois últimos meses antes das eleições. Caso contrário, consolida-se um forte indício de que Bolsonaro atingiu o seu teto e que, ainda que haja segundo turno, sua reeleição parece cada vez mais improvável, com ou sem medidas eleitoreiras e falas golpistas contra o sistema democrático nacional.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).