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Entendendo Bolsonaro

OPINIÃO

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Discurso de Fux indica que instituições estão defenestrando o bolsonarismo

29.jun.2022 - O presidente do STF, ministro Luiz Fux, durante sessão plenária  - Nelson Jr./SCO/STF
29.jun.2022 - O presidente do STF, ministro Luiz Fux, durante sessão plenária Imagem: Nelson Jr./SCO/STF

Colunista do UOL

01/08/2022 18h56

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* Cesar Calejon

Os últimos sete dias foram trágicos para as ambições golpistas do bolsonarismo. Desde a catastrófica reunião com embaixadores de diferentes países, em que foram lançadas dúvidas infundadas sobre o sistema eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sofrido uma verdadeira enxurrada de derrotas.

Somente durante a última semana, por exemplo, uma carta em defesa da democracia ganhou mais de meio milhão de assinaturas, entidades como a Fiesp lançaram manifestos pró democracia, banqueiros se posicionaram contra o bolsonarismo, candidatos à Presidência sinalizaram uma possível desistência para aderir a Lula (PT) e a mais recente pesquisa Datafolha indicou, novamente, a chance real de vitória do petista ainda no primeiro turno.

Hoje (1º), o discurso proferido por Luiz Fux, que preside o STF (Supremo Tribunal Federal) e inicia o seu último mês no cargo, é outro claro sinal que indica que as instituições brasileiras, muitas das quais apoiaram o golpe contra Dilma Rousseff, inclusive, estão defenestrando o bolsonarismo.

Ao endereçar as ameaças de Jair Bolsonaro e dos seus seguidores à democracia, ao sistema eleitoral e ao próprio STF, Fux ataca, frontalmente, a estratégia golpista do bolsonarismo, que aposta todas as suas fichas no ato do próximo dia 7 de Setembro, para o qual Bolsonaro convocou o seu séquito de militantes a dar "a vida pela liberdade".

Seguramente, a liberdade dele e dos filhos, que cometeram, reiteradamente, crimes contra o povo enquanto no exercício das suas funções parlamentares e agora deverão ser confrontados com as consequências de seus atos.

Seguindo a mesmíssima cartilha trumpista que levou à invasão do Capitólio estadunidense no dia 6 de janeiro de 2021 e resultou em mortes, Jair Bolsonaro insiste em tentar convulsionar a democracia brasileira e pode pagar ainda mais caro por isso após o término do seu mandato. Eventuais mortes ou danos que ocorram em decorrência da convocação bolsonarista para o ato do Dia da Independência serão creditados diretamente ao presidente brasileiro.

Neste sentido, apesar de ter apoiado a Lava Jato e todo o processo que deu margem à ascensão do bolsonarismo — como não lembrar do constrangedor "in Fux we trust"? —, neste momento, o ministro Fux desempenha um papel importante, no último mês da sua gestão, ao se posicionar, de forma firme e coesa, em prol da democracia brasileira e dos valores constitucionais que sustentam a República.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).