Apoio de Bolsonaro a ato suprime debate sobre alta do dólar e motim da PM
O debate em torno do apoio do presidente Jair Bolsonaro às manifestações anti-Congresso serviu para suprimir a repercussão de outras pautas polêmicas do governo, como a alta do dólar ou o motim de policiais militares no Ceará.
Foi o que concluiu o levantamento da consultoria de dados Arquimedes que analisou, entre os dias 25 e o 28, até meio-dia, 720.167 publicações no Twitter sobre Bolsonaro e o envio de vídeos pelo presidente convocando a população para ir às ruas defendê-lo.
Os dados sugerem que a pauta em torno do vídeo dominou boa parte do debate público, abafando outras polêmicas que vinham sendo discutidas nas redes nos dias anteriores. Nesta sexta, por exemplo, o dólar comercial fechou o dia cotado a R$ 4,481 na venda, batendo outro recorde nominal (sem considerar a inflação).
Segundo a consultoria, no Facebook, as publicações sobre as manifestações do dia 15 de março alcançaram aproximadamente 4,5 milhões de interações.
Já os posts sobre a alta do dólar ou a queda da bolsa obtiveram pouco mais de 500 mil interações, ambos no período de 25 a 28 até o meio-dia.
Os dados ainda revelam que a direita bolsonarista (39,37% das publicações) aproveitou a atenção para divulgar e convocar a população à manifestação, criticando seus detratores.
"O resultado mostrou a polarização das redes, encontrada em diversos outros momentos delicados desde o início do governo. Nessas ocasiões, há pouca presença de grupos "moderados", tornando as discussões reduzidas a seus grupos fechados", diz o analista e fundador da Arquimedes, Pedro Bruzzi.
Nos bastidores, há quem diga que a cúpula do Congresso decidiu evitar um embate público sobre o apoio do presidente ao ato para não insuflar as manifestações, nem ampliar ataques ao Congresso.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), não se manifestou publicamente sobre o assunto. Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), publicou uma mensagem amena, sem citar Bolsonaro, afirmando que "criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir".
A mensagem frustrou políticos da esquerda, que esperavam uma resposta mais dura do Congresso ao presidente.
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