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Crise Climática

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula ouve propostas para reconstruir política ambiental

Lula em evento da CUT - Reprodução
Lula em evento da CUT Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

21/04/2022 11h00

Esta é parte da versão online da edição desta quinta-feira (21) da newsletter Crise Climática, que discute questões envolvendo a emergência climática, como elas já afetam o mundo e quais são as previsões e soluções para o futuro. Para assinar o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.

O tema da mudança climática entrou finalmente no debate eleitoral a partir do encontro realizado em São Paulo entre ambientalistas, cientistas e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), além de representantes dos partidos que integram a frente que lançará sua candidatura (Rede, PCdoB, PV e PSB).

Para Lula, o movimento ambientalista precisa lançar esforços para esclarecer a sociedade brasileira de que a proteção ambiental não é inimiga do desenvolvimento econômico. "Quando a gente fala em benefício para a humanidade é lindo, mas a pessoa que está lá precisa ser incluída, saber que vai ter emprego, escola, saúde. Vamos melhorar as coisas, vamos gerar empregos, oportunidades", disse o ex-presidente.

Ganharam destaque na imprensa a proposta de criação de um instituto tecnológico para a Amazônia, a busca de novas formas de financiamento, e a vontade do PSB estar à frente dessa agenda em um futuro governo petista. Mas participantes do evento afirmam que o tom geral foi de coleta de propostas e reivindicações, com poucos anúncios concretos.

"O Lula não fez propostas exatamente. Ouviu propostas", explicou Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima (OC) e ex-presidente do IBAMA. Segundo a pesquisadora, que esteve na reunião organizada pela Fundação Perseu Abramo e pelo Partido dos Trabalhadores, o evento reuniu subsídios para a futura política ambiental, "que necessitará ser reconstruída após a destruição causada pelo governo Bolsonaro."

Um ponto de convergência entre todos os participantes é o de que o combate ao desmatamento precisa ser retomado com urgência, além da recuperação orçamentária de órgãos de fiscalização, como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

Também estiveram no encontro o cientista Carlos Nobre, os economistas Ricardo Abramovay e Esther Bemerguy, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e os ativistas Carlinhos dos Anjos e Claudinha Pinho, ambos dirigentes do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais.

"Pessoalmente apresentei pontos que estamos debatendo coletivamente na rede de mais de 70 organizações que integram o OC (Observatório do Clima)", relata Araújo. Ela informa que o Observatório do Clima está finalizando este documento, que será divulgado amplamente no âmbito do projeto Brasil 2045.

"A ideia é subsidiar todos os candidatos, com exceção de Bolsonaro, que já demonstrou cabalmente que tem o desmantelamento da política ambiental como um projeto", afirma a especialista. Para ela, a política ambiental brasileira "não tem qualquer futuro em caso de reeleição [de Bolsonaro]".

O único candidato à presidência que já tinha abordado de alguma forma o tema das mudanças climáticas é Ciro Gomes (PDT-CE). Em uma sequência de vídeos publicados em dezembro, ele aborda o destino da Petrobrás em um futuro sem lugar para os combustíveis fósseis.

E o que mais você precisa saber

indígenas ditadura - Antonio Cruz/Agência Brasil - Antonio Cruz/Agência Brasil
23.abr.2013 - A Comissão Nacional da Verdade recebe uma comitiva de índios Xavante da terra indígena Marãiwatsédé (MT)
Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Você conhece?

O papel das Forças Armadas na vida civil brasileira está em debate e convém recordar que as principais vítimas da ditadura militar foram os indígenas. Enquanto as estimativas apontam que 434 cidadãos foram mortos pelo regime no contexto urbano, a Comissão da Verdade indica que 8,3 mil indígenas foram assassinados pelo Estado no período. Além dos massacres, uma das "técnicas" empregadas foi a contaminação proposital por doenças infectocontagiosas e a recusa em promover a vacinação dessas populações — aspecto retratado no filme Xingu (Brasil, 2012). Por ocasião do dia 19 de abril, o jornalista capixaba Rafael Silva recorda que um dos elementos que ensejou o AI-5 em 1968 foi uma CPI sobre grilagem de terras indígenas no Espírito Santo por investidores estrangeiros com apoio do governo militar.

conflito por terra - Paulo Fridman/Corbis via Getty Images - Paulo Fridman/Corbis via Getty Images
Assentamentos no Pará são ameaçados por grilagem, violência e fogo
Imagem: Paulo Fridman/Corbis via Getty Images

Agromilícias

Um relatório divulgado no dia 18 pela Comissão Pastoral da Terra registrou 4.078 conflitos agrários de 2019 e 2021, maior número para um único mandato presidencial desde a redemocratização do país. O documento teve ampla cobertura da imprensa, incluindo Carlos Madeiro, no UOL. O interesse por histórias que relacionam a crise ambiental no Brasil ao crime organizado está aumentando. O tabloide britânico Mirror descreveu em uma grande reportagem a ação de desmatadores como "uma máfia agrícola", com destaque inédito para o Cerrado, sempre ofuscado no exterior pela Amazônia.

mineração pará - Danilo Verpa/Folhapress - Danilo Verpa/Folhapress
Projeto de mineração em Canaã dos Carajás, no Pará
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Manganês ilegal

Não é só o garimpo ilegal de ouro. A criminalidade no setor de mineração está contaminando cadeias tradicionais de exportação, como a do manganês, matéria-prima fundamental para a indústria siderúrgica. A denúncia de André Borges, no Estadão, mostra como empresas exportadoras utilizam endereços de minas desativadas para "esquentar" a produção milionária realizada ilegalmente em áreas protegidas no Pará, incluindo Unidades de Conservação, Parques Nacionais e Terras Indígenas.

xipaya - Redes sociais - Redes sociais
cacique Juma Xipaya, da aldeia Karimãa, denunciou em vídeo que circula nas redes sociais que garimpeiros invadiram o território Xipaya
Imagem: Redes sociais

Polícia e ladrão

A Polícia Federal ainda não explicou por que liberou os invasores da Terra Indígena Xipaya, na região de Altamira, no Pará. Durante o feriado de Páscoa, garimpeiros avançaram sobre o território indígena, ameaçaram lideranças e só foram detidos após rápida mobilização da cacica Juma Xipaya nas redes sociais. O Ministério Público Federal afirmou que está cobrando as autoridades de segurança e de fiscalização sobre quais providências estão sendo tomadas.

enchente africa do sul - Rogan Ward/Reuters - Rogan Ward/Reuters
Escombros de uma casa destruída após enchentes em Durban, na África do Sul
Imagem: Rogan Ward/Reuters

Tragédia sul-africana

Na segunda-feira (18), o governo da África do Sul decretou estado de emergência nacional em decorrência das enchentes em Durban, terceira maior cidade do país. Segundo o Serviço Meteorológico Sul-Africano, os 300 mm de chuva que caíram na região entre os dias 11 e 12 de abril superaram com folga as previsões e os registros históricos. Ao todo, 443 pessoas morreram e dezenas seguem desaparecidas, 13 mil casas foram danificadas —4 mil delas completamente destruídas—, além de 600 escolas. Mais de 40 mil pessoas ainda estão desabrigadas. O abastecimento de água e luz entrou em colapso, e o porto de Durban, um dos mais importantes do continente, foi severamente afetado.

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Avião tenta conter fogo na Sibéria no verão de 2021
Imagem: inistry of Defence of the Russian Federation/Handout via REUTERS

Arde Sibéria

Na gelada Sibéria, pequenos incêndios ocorrem regularmente no verão, mas em 2021, 21 milhões de acres de Floresta Boreal (85 mil km²) queimaram —número quatro vezes acima do normal—, obrigando o governo russo a deslocar um enorme contingente militar para controlar o fogo. Incêndios de grande magnitude intensificados desde sexta-feira (15) parecem indicar que a temporada de fogo deste ano começou mais cedo e pode ser mais violenta, enquanto o exército da Rússia está ocupado com a invasão da Ucrânia. Queimadas nesta região preocupam os climatologistas principalmente porque aceleram o descongelamento do permafrost, um tipo de solo que contêm estoques elevados de carbono e gás metano.

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A guerra está fazendo a humanidade jogar a toalha na luta contra a crise do clima? Novo relatório indica que as principais economias se movimentam para aumentar a independência em relação à Rússia nas áreas de energia e alimentos, mas isso está custando o abandono de compromissos climáticos fundamentais.

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