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Crise Climática

OPINIÃO

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JBS elevou emissões em 51% em 5 anos, diz estudo; empresa contesta dados

Logo JBS - REUTERS/Paulo Whitaker
Logo JBS Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker

Colaboração para o Uol, em São Paulo

28/04/2022 11h00

Esta é parte da versão online da edição desta quinta-feira (28) da newsletter Crise Climática, que discute questões envolvendo a emergência climática, como elas já afetam o mundo e quais são as previsões e soluções para o futuro. Para assinar o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.

Uma pesquisa afirma que a multinacional JBS, maior empresa de carnes do mundo com sede no Brasil, aumentou suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 51% em cinco anos. A companhia contesta os dados e afirma que o estudo usa "metodologia equivocada e dados grosseiramente extrapolados".

Segundo o levantamento, a empresa jogou na atmosfera 280 milhões de toneladas (mt) de GEE em 2016, passando para cerca de 421,6 mt em 2021. Com isso, a pegada climática da JBS seria superior à taxa anual de emissões da Itália ou da Espanha e muito próxima às da França (443 mt) e do Reino Unido (453 mt).

O estudo foi realizado por uma coalizão de ONGs - Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP), Feedback e Mighty Earth - em parceria com o site investigativo DeSmog. Segundo a coalizão, os achados da análise desmentem a estratégia climática anunciada pela companhia, denominada "Net Zero até 2040".

A JBS afirma que os resultados levam em conta "números mais recentes de capacidade de processamento por dia", dado que "não reflete os números reais processados e não se destina a ser usado dessa maneira".

A empresa também diz que "já estão em andamento" as duas recomendações principais do relatório: divulgar emissões de acordo com os padrões internacionais e permitir a verificação independente das metas de Net Zero.

Com base nos resultados do estudo, Shefali Sharma, diretora europeia do IATP, afirma que "é desesperador pensar que a JBS possa continuar a fazer promessas climáticas aos investidores, mesmo quando a empresa aumenta maciçamente suas emissões".

Sharma defende a criação de sistemas públicos e independentes para monitorar as emissões de grandes empresas poluidoras. "Nossas estimativas de emissões atualizadas mostram claramente os danos que estão sendo causados por anúncios vazios, de planos net-zero", completa.

Com faturamento anual recorde de 76 bilhões de dólares, a JBS prometeu no ano passado alcançar emissões líquidas zero até 2040. Mas o plano apresentado foi criticado por omitir as chamadas emissões do 'Escopo 3'.

Este segmento engloba a poluição gerada por toda a cadeia de fornecimento: o metano emitido pelo gado, as emissões do desmatamento, incêndios florestais e mudança de uso da terra, produção de ração animal e uso de agroquímicos, por exemplo. Segundo estimativas, as emissões do Escopo 3 representam 97% da contribuição da JBS para a mudança climática.

Hazel Healy, editora britânica do DeSmog, disse que a JBS está usando as mesmas táticas de greenwashing empregadas pelas grandes empresas de petróleo e gás há décadas.

"Ela se apresenta como uma empresa com genuína ambição climática, mas não revela suas emissões totais para que elas possam ser comparadas com as comunicações públicas da empresa. E como esta pesquisa mostra, as emissões da JBS estão aumentando substancialmente, não diminuindo", diz Healy.

A imprensa internacional repercutiu a análise, incluindo Financial Times, Bloomberg, Politico, The Telegraph e o dinamarquês Duurzaam Financieel.

Confira, na íntegra, a resposta da JBS

Consideramos bem-vindas a análise e a oportunidade de discutir como enfrentamos de maneira construtiva e quantificamos os desafios que nosso setor enfrenta. Alcançar nosso compromisso de ser Net Zero até 2040 é nossa prioridade número um e estamos trabalhando em conjunto com lideranças reconhecidas globalmente nessa área, incluindo a SBTi, para avaliar, alinhar e auditar metas de redução de emissões baseadas na ciência, considerando os escopos 1, 2 e 3, como é nosso objetivo desde o início.

Temos sido transparentes sobre os prazos necessários para fazer isso, enquanto lideramos a transição de nosso setor, e forneceremos atualizações à medida que concluirmos cada etapa de nossa jornada. Alcançar a verdadeira mudança requer reconhecer os desafios que nosso setor enfrenta e garantir uma abordagem rigorosa baseada na ciência para reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa.

Em vez disso, o relatório do IATP usa uma metodologia equivocada e dados grosseiramente extrapolados para fazer afirmações enganosas, incluindo o uso de nossa capacidade de processamento para estimar nossas emissões. Embora não concordemos com seus métodos e não tenhamos tido a oportunidade de contribuir ou de responder aos pontos trazidos pelo relatório antes da publicação, entramos em contato com a ONG para revisar suas conclusões em busca de nosso objetivo comum. Também contatamos consultores especializados independentes nessa área para garantir uma abordagem transparente e baseada na ciência.

No que diz respeito às duas recomendações principais dos relatórios - o trabalho de divulgação das emissões de acordo com os padrões internacionais de melhores práticas e a verificação independente de terceiros com relação à nossa meta de Net Zero -, ambas já estão em andamento.

E o que mais você precisa saber

palmeira juçara - Eliza Carneiro/ Pesquisa Fapesp - Eliza Carneiro/ Pesquisa Fapesp
Cachos com frutos de juçara, cuja cor arroxeada se deve aos níveis elevados de antocianina, substância benéfica ao organismo
Imagem: Eliza Carneiro/ Pesquisa Fapesp

Você conhece?

O site O Joio e o Trigo, especializado na cobertura jornalística do setor de produção de alimentos, trouxe na última edição de seu podcast Prato Cheio a história de resistência de uma árvore símbolo da Mata Atlântica: a palmeira juçara. Muitos conhecem apenas o palmito desta planta —um produto que só pode ser extraído com o corte da árvore. Mas esta espécie fornece também uma polpa muito nutritiva e saborosa, semelhante à polpa de açaí, só que mais frutada e fresca. Este alimento, que sempre esteve na mesa dos indígenas, quilombolas e caiçaras, é uma esperança para conservação da juçara, que está em risco de extinção devido à extração palmiteira insustentável.

onda de calor - Ajay Verma/Reuters - Ajay Verma/Reuters
Mulher cobre o rosto para se proteger do sol em Chandigarh, na Índia durante a onda mortal de calor de 2015
Imagem: Ajay Verma/Reuters

Índia 50ºC

Uma onda de calor sobre Índia e Paquistão se intensificou nos últimos dias e deve durar até domingo (1), marcando mais de 40ºC em quase toda a região onde vivem cerca de 20% dos habitantes da Terra. Algumas localidades nos dois países têm risco de bater os 50ºC. Lavouras de trigo indianas foram arrasadas, em um momento crucial da crise internacional de alimentos. Autoridades locais emitiram alertas para evitar mortes em massa, como na onda de calor de 2015, que tirou a vida de mais de 4 mil pessoas. Eventos de calor extremo são incomuns para o mês de abril na região, o que indica que os meses de maio e junho podem ser críticos.

favela do moinho - Joel Silva/Folhapress - Joel Silva/Folhapress
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Imagem: Joel Silva/Folhapress

Favela do Moinho

Após três décadas, a Favela do Moinho, localizada no centro da cidade de São Paulo e onde vivem mais de mil famílias, teve o primeiro reconhecimento de sua existência: o fornecimento de água potável e coleta de esgoto. Em meio às disputas judiciais pela posse do terreno —uma antiga fábrica de farinha abandonada—, a favela já passou por dois grandes incêndios e cresceu nos últimos anos, refletindo o aumento geral da pobreza no país.

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Áurea Bernardo da Silva, 74, mostra a conta de luz de R$ 209
Imagem: Beto Macário/UOL

Atraso

A conta de energia ficará ainda mais cara, e a culpa é das termelétricas movidas a gás importado que o governo Bolsonaro contratou a pretexto de eliminar o risco de apagão durante a crise hídrica de 2021. Mas as novas usinas não devem ficar prontas a tempo da próxima estiagem, informa em detalhes matéria da Folha de quarta-feira (27). A insistência em investir nessa fonte poluente foi justificada porque, em tese, as térmicas ficariam prontas mais rapidamente do que plantas eólicas e solares, que têm energia muitas vezes mais barata.

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A União Europeia está debatendo se uma nova lei anti-desmatamento deve ser expandida para incluir uma gama ampla de zonas úmidas, incluindo as savanas tropicais, como o Cerrado. Um estudo divulgado agora aumenta a pressão para esta ampliação ao mostrar a alta exposição da carne de porco espanhola e seu tradicional jamón serrano ao desmatamento do Cerrado por meio da soja.

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