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Crise Climática

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

20% da humanidade depende da vida selvagem, e ela está sumindo

Garoto empina pipa ao lado de madeira extraída da Amazônia no Pará - Reuters
Garoto empina pipa ao lado de madeira extraída da Amazônia no Pará Imagem: Reuters

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/07/2022 11h00

Esta é parte da versão online da edição desta quinta (14) da newsletter Crise Climática. A versão completa, apenas para assinantes, traz uma análise de como a mudança de governo no Reino Unido pode servir de pretexto para naufragar os ambiciosos planos climáticos britânicos. Para assinar o boletim, clique aqui.

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Uma a cada cinco pessoas no mundo depende de animais e plantas selvagens para se alimentar ou obter renda, e muitas dessas espécies estão sob processo acelerado de extinção devido à superexploração e às mudanças climáticas. A alta dependência contrasta com a subvalorização da vida selvagem, vista apenas por seu valor de mercado. Isso contribui para o contrabando, que já é a terceira atividade ilegal do mundo e movimenta quase US$ 200 bilhões.

Estas são algumas das conclusões de dois novos relatórios da maior autoridade científica no tema da biodiversidade, a IPBES (Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos). Os documentos produzidos pela Plataforma representam a revisão mais confiável e ampla da literatura científica sobre o estado da biodiversidade terrestre, e assim como o Painel sobre clima, o IPCC, conta com o trabalho de cientistas de todos os continentes e com a aprovação do texto final por representantes dos países.

O primeiro relatório, divulgado na sexta-feira (8), traz um retrato da vida selvagem e aponta para a extinção generalizada e acelerada de milhões de espécies das quais os seres humanos dependem diretamente - muitas vezes sem saber. Esta biodiversidade está presente na geração de energia, em medicamentos e vacinas, tecidos, biomateriais de base tecnológica, cosméticos e produtos alimentícios diversos, incluindo os industrializados, além de atividades de lazer.

"Com mais de 50 mil espécies selvagens sendo usadas para diferentes práticas, incluindo mais de 10 mil que servem diretamente para a alimentação, pessoas que vivem no ambiente rural em países em desenvolvimento estão sob os maiores riscos advindos do uso insustentável", afirma Jean Marc Fromentin, pesquisador sênior do Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar e um líderes do relatório da IPBES. "Com a falta de alternativas complementares, essas pessoas são frequentemente forçadas a explorar outras espécies selvagens que também já estão em risco."

"A superexploração é uma das maiores ameaças à sobrevivência das espécies terrestres e aquáticas no mundo natural", afirma John Donaldson, presidente da Autoridade Científica da África do Sul e também líder deste relatório. "Abordar as causas do uso insustentável e, sempre que possível reverter essas tendências, resultará em melhores resultados para as espécies selvagens e para as pessoas que dependem delas".

Já o segundo relatório, divulgado na segunda-feira (11), coloca a humanidade em uma encruzilhada: ao não valorizar a natureza por meios não mercadológicos, medidas políticas e econômicas pensadas para proteger tendem a agravar a crise de perda de biodiversidade. Ficam em segundo plano nessas políticas, segundo os autores, o valor intrínseco da natureza, seus serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima, e sua importância para a cultura humana.

"A mudança de mentalidade para valores múltiplos de natureza é muito importante, pois é uma maneira informada e flexível de dialogar com a atual crise da biodiversidade global", afirma Patrícia Balvanera, da Universidade Nacional Autônoma do México e uma das líderes deste relatório. "Este é um princípio que define o desenvolvimento e a boa qualidade de vida e que reconhece os múltiplos aspectos da vida em cada país em relação ao mundo natural."

E o que mais você precisa saber

garimpo - Chico Batata/Greenpeace Brasil - Chico Batata/Greenpeace Brasil
Destruição causada pelo garimpo ilegal nas terras indígena Munduruku, no sudoeste do Pará,
Imagem: Chico Batata/Greenpeace Brasil

ARTESANATO DE BILHÕES

Um grupo de garimpeiros ilegais - atividade que o governo Bolsonaro tenta classificar como "artesanal" e "tradicional"— movimentou mais de R$ 16 bilhões desde 2019. A denúncia é de uma megaoperação executada pela Polícia Federal na quinta-feira (7) e reportada em detalhes pelo Fantástico. Somente este grupo criminosos teria destruído o equivalente a 212 campos de futebol de Floresta Amazônica.

ibama - Ibama - Ibama
Fiscais do Ibama ateiam fogo em balsa de mineração as margens do rio Uraricoera durante operação em terra yanomami
Imagem: Ibama

VOCÊ CONHECE?

O perfil Fiscal do Ibama, presente em diferentes redes sociais, é uma forma inacreditavelmente bem-humorada e efetiva de acompanhar os retrocessos ambientais do país. A página colaborativa, anônima e politicamente engajada aborda questões jurídicas e normativas envolvendo crimes ambientais e "boiadas" que o Congresso tenta insistentemente aprovar. Um dos elementos de maior engajamento são as imagens exclusivas de operações de fiscalização e destruição de maquinário usado no garimpo no desmatamento ilegais.

poluição china - Reuters - Reuters
19.dez.2015 - Névoa de poluição encobre boa parte do céu de Pequim, na China. O governo chinês decretou alerta vermelho por contaminação atmosférica
Imagem: Reuters

NOVOS ARES DA CHINA

Esta imagem clássica de cidades chinesas cobertas por uma densa camada de poluição está ficando no passado. Um estudo do Instituto de Política de Energia da Universidade de Chicago, nos EUA, identificou uma redução de mais de 40% na poluição do ar no país asiático em apenas 7 anos, de 2013 (quando o país vivia o chamado airpocalipse) a 2020. A velocidade e o volume desta redução de poluição atmosférica é sem precedentes no mundo, e as principais razões desse êxito são bastante óbvias: substituição de combustíveis fósseis, sobretudo o carvão, por fontes renováveis; restrições aos carros; e regulamentação mais rígida para a emissão de poluentes em todos os setores, principalmente o automotivo.

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