Topo

Cristina Tardáguila

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desse limão azedo chamado Monark, faremos (ou não) uma limonada?

Colunista do UOL

10/02/2022 06h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Aconteceu com o estúdio Flow, com a Jovem Pan, com o Spotify e com o Twitter. E, se soubermos manter o ritmo, ainda vamos ver muitos outros casos de pressão pública provocando mudanças relevantes em 2022. Oportunidades não faltarão.

Nas últimas semanas, quatro poderosas empresas de tecnologia, comunicação e entretenimento sentiram na pele o peso da internet e se viram obrigadas a agir contra o repugnante movimento antivacina e o intolerável discurso de ódio - conteúdos que nelas proliferavam.

Em 17 de janeiro, o Twitter anunciou que chegava ao Brasil um sistema de denúncias que permitiria que seus usuários apontassem publicações contendo mentiras sobre a pandemia. É bem verdade que a ferramenta ainda está em fase de teste e deixa a desejar, mas está lá. Existe.

O Spotifiy, por sua vez, atualizou suas políticas públicas para conteúdos relacionados à covid-19 em 30 de janeiro. Prometendo passar a remeter seus ouvintes a fontes de dados confiáveis sobre a pandemia, colocando em xeque um de seus mais famosos apresentadores.

O Flow e a Jovem Pan suspenderam nesta semana (mesmo que de forma temporária) o acesso de dois lunáticos a seus microfones. E que bom que o fizeram. Nazismo se corta pela raiz.

Mas o que une essas quatro crises envolvendo o influenciador Monark, o ex-BBB Adrilles Jorge, o podcaster americano Joe Rogan e os milhares de perfis antivacina que povoam o Twitter Brasil são, na verdade, exemplos concretos de que "sim, podemos" vencer a mentira e o ódio. São provas de que a pressão pública ainda existe e que funciona. É uma arma a que podemos recorrer com mais frequência.

Talvez ainda seja cedo para dizer que, desses quatro limões azedos, o Brasil conseguiu fazer uma limonada. A dor sofrida pela comunidade judaica e a raiva sentida por cientistas e profissionais de saúde ao ouvir narrativas que defendem o nazismo ou são contrárias às vacinas foi imensurável. Talvez inesquecível.

Mas é fato inconteste que nós, reles pagadores de impostos que habitamos as redes sociais aqui e ali, conseguimos mostrar - quatro vezes em apenas um mês, repito - que ainda somos capazes de nos organizar, de colocar em xeque o posicionamento de marcas e de desestabilizar o bom relacionamento delas com seus patrocinadores.

Conseguimos chamar a atenção de executivos - inclusive daqueles que vivem e atuam no exterior - e de autoridades que carregam canetas capazes de deslanchar investigações criminais. Fomos destemidos nos quatro casos e passamos a ser temidos.

E o Brasil precisa de mais momentos assim. De uma opinião pública vibrante, capaz de delimitar de forma clara seus limites. Não falo de linchamento, de cancelamento. Nada disso. Falo de reclamação concreta e bem direcionada. Falo de repúdio às mentiras que já foram fartamente desconstruídas e seguem por aí.

Basta.

As eleições estão logo ali, no segundo semestre. E ninguém duvida de que padeceremos, uma vez mais, de um sem-fim de notícias falsas. Falta saber se a opinião pública brasileira vai conseguir se mobilizar com o cenário eleitoral na mesma intensidade que o fez recentemente. E, mais, será que as empresas e os poderosos reagirão da mesma maneira?

Será que rola?

Cristina Tardáguila é diretora sênior de programas do ICFJ e fundadora da Agência Lupa