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Diálogos Públicos

OPINIÃO

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Premiados do Nobel e contribuições para avaliação em políticas públicas

Vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2021 - Reprodução/Twitter/NobelPrize
Vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2021 Imagem: Reprodução/Twitter/NobelPrize

Colunista do UOL

03/11/2021 13h20

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*Luciana Rosa de Souza

Foram anunciados os vencedores do prêmio Nobel em economia de 2021, no dia 11 de outubro de 2021, são eles David Card (Universidade da Califórnia), Joshua Angrist (Instituto de Tecnologia de Massachussets) e Guido Imbens (Stanford Graduate School). O prêmio Nobel em Economia é importante porque indica linhas de pesquisa e reflexões sobre novas formas de encaminhar as políticas econômicas e sociais.

Os três laureados são especialistas em "experimentos naturais" com foco em situações da vida real. Os estudos se estruturaram em perguntas tais como: Por que mulheres ganham menos do que os homens? O serviço militar obrigatório aumenta os salários? Qual o impacto da contratação coletiva na evolução dos níveis salariais? A partir destas perguntas, eles buscam por meio de evidências empíricas avaliar a questão levantada, a qual, permeia ações de políticas públicas. O arcabouço teórico é conhecido como políticas públicas baseadas em evidências.

Os experimentos naturais são estudos baseados em dados observacionais em que há aleatoriedade na determinação dos grupos controle e tratamento. Angrist focou mais nos experimentos naturais ("The natural experimenter"). Enquanto Imbens focou em métodos econométricos para determinar relações causais, algo essencial quando se pensa em avaliar políticas públicas.

Card (juntamente com Krueger) estudaram as relações causais entre variações nos níveis salariais e o nível de emprego na economia. Seus achados mostram que não é real a afirmação de que aumentos nos salários geram aumentos nos níveis de desemprego, como foi disseminado pela teoria econômica ao longo do século XX.

Assim, o prêmio Nobel de Economia de 2021 jogou luz sobre a necessidade de mudança de paradigma da pesquisa em ciência econômica para que se consiga fazer frente as necessidades da sociedade no século XXI, as quais são mais complexas do que no século passado e que demandam políticas públicas amplas e capazes de afetar a desigualdade, a pobreza contemplando a questão ambiental. Dessa forma, o prêmio deste ano deixou claro que as explicações teóricas dadas em economia para problemas do século XX não são suficientes para explicar e solucionar as questões urgentes do século XXI.

Para políticas públicas o legado é muito positivo, pois, traz a avaliação e a busca por encontrar causalidades, como mote primordial para desenhar e implementar novas políticas que sejam capazes de afetar a vida real das pessoas mais vulneráveis em âmbito mundial. Oxalá as pesquisas dos premiados abram espaço para novas políticas públicas, mais inclusivas e com menos vieses ideológicos.

*Luciana Rosa de Souza é professora e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo especialista em políticas anti pobreza no Brasil e na América Latina e realizou diversos estudos sobre desigualdades e vulnerabilidades durante a pandemia de Covid-19.