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Diogo Schelp

REPORTAGEM

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Primeiro cartão de vacinação de mãe de Bolsonaro indica lote da CoronaVac

Comprovante de Vacinação da mãe de Bolsonaro, que foi apresentado pelo presidente na live de quinta-feira (18) - Reprodução/UOL
Comprovante de Vacinação da mãe de Bolsonaro, que foi apresentado pelo presidente na live de quinta-feira (18) Imagem: Reprodução/UOL

Colunista do UOL

21/02/2021 12h01

O cartão de vacinação contra covid-19 apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro como sendo de sua mãe, Olinda Bonturi Bolsonaro, e que comprovaria que ela foi vacinada no último dia 12 com a vacina de Oxford, indica um número de lote compatível com a CoronaVac, do Instituto Butantan, não com o imunizante fornecido pela Fiocruz.

Além disso, a data prevista para a segunda dose, 5 de março, é a recomendada para a CoronaVac, não para a vacina de Oxford.

O cartão foi exibido por Bolsonaro em sua live semanal na internet, na quinta-feira (18), para provar que sua mãe foi imunizada com a primeira dose da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford com o laboratório AstraZeneca, importada pelo governo federal, e não com a CoronaVac, fornecida pelo governo do estado de São Paulo, conforme havia sido divulgado em reportagem do portal R7.

Em sua live, Bolsonaro disse que ia desmentir a reportagem do portal pertencente ao Grupo Record. Em seguida, apresentou um papel impresso com a cópia ampliada do que seria, segundo ele, o cartão original de vacinação de sua mãe.

A mãe de Bolsonaro, que tem 93 anos, mora em Eldorado, no interior paulista, e foi vacinada em casa.

O comprovante foi preenchido com o nome completo da mãe de Bolsonaro, a data em que foi administrada a primeira dose (12/02/2021), o lote da vacina (200278), o fabricante (Oxford), o nome do vacinador (Walter) e seu registro profissional (317.633). Na coluna ao lado, a lápis, consta a data indicada para a segunda dose (05/03/2021).

Apesar de o cartão exibido por Bolsonaro apontar "Oxford" como fabricante, o número do lote indica que a vacina aplicada é a CoronaVac. No site do Instituto Butantan, o lote 200278 foi um dos dezesseis da CoronaVac que receberam autorização emergencial da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 22 de janeiro.

Já os lotes da vacina de Oxford distribuídos pela Fiocruz para o estado de São Paulo, segundo site do Ministério da Saúde, são o 4120Z004 e o 4120Z005.

Além do número do lote indicado no cartão apresentado por Bolsonaro não ser compatível com a vacina de Oxford, há também a questão da data para aplicação da segunda dose.

Se o imunizante recebido por dona Olinda fosse o de Oxford, a segunda dose deveria ser ministrada entre dois e três meses depois da primeira. Ou seja, apenas de 12 de abril em diante.

Já a recomendação para a CoronaVac, a vacina do Instituto Butantan, é de que a segunda dose seja ministrada 21 dias depois. Ou seja, exatamente no dia 5 de março, conforme consta no comprovante exibido por Bolsonaro.

O presidente afirmou na live que, duas horas depois de aplicar a vacina em sua mãe, o enfermeiro retornou à casa dos Bolsonaro em Eldorado, "apavorado", rasgou o comprovante de vacinação que continha a palavra "Oxford" e trocou por outro, que indicava o "Butantan" como fabricante.

Ao ler, ao vivo, algumas informações que, segundo ele, constam no segundo comprovante de vacinação, Bolsonaro expôs o nome completo do enfermeiro (no primeiro cartão, aparece apenas o seu primeiro nome) e seu registro profissional (que é o mesmo do primeiro documento).

Mas o presidente não informou, em sua live, qual era o número do lote e a data prevista para a segunda dose de acordo com o segundo comprovante.

A coluna entrou em contato com a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, por telefone e por email, solicitando informações sobre o número do lote e sobre a data indicada para a segunda dose da vacinação que constam no segundo comprovante recebido pela mãe do presidente. Não houve resposta até a publicação deste texto.

À parte a discrepância de informações existente no primeiro comprovante de vacinação que, segundo Bolsonaro, teria sido entregue à sua mãe, os dados oficiais do governo federal indicam que nenhum morador de Eldorado recebeu a vacina de Oxford em 12 de fevereiro, o dia em que ela foi vacinada.

Segundo informações públicas que constam no site do Ministério da Saúde, as últimas 10 doses da vacina de Oxford foram aplicadas no município no dia 9 de fevereiro, três dias antes de dona Olinda ser vacinada.

O mais relevante, porém, não é saber se a mãe do presidente recebeu a vacina de Oxford ou a do Instituto Butantan — com uma ou com outra, é de se comemorar que ela está sendo protegida contra o novo coronavírus.

O que se faz necessário é esclarecer o imbróglio dos comprovantes de vacinação apresentados por Bolsonaro, pois o presidente expôs um enfermeiro, com nome e sobrenome, sugerindo que ele teve uma conduta imprópria ao vacinar sua mãe, o que levou a prefeitura de Eldorado a anunciar que vai abrir uma sindicância administrativa para apurar a acusação.