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Diogo Schelp

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ao contrário de Nunes Marques, Mendonça teve lealdade testada por Bolsonaro

Como ministro da Justiça, André Mendonça mandou investigar até outdoor contra Bolsonaro - Rwprodução; AGU/Ascom/Divulgação; Reprodução
Como ministro da Justiça, André Mendonça mandou investigar até outdoor contra Bolsonaro Imagem: Rwprodução; AGU/Ascom/Divulgação; Reprodução

Colunista do UOL

06/07/2021 15h46

Uma vez empossado e com a segurança de que sobreviverá no cargo a muitos presidentes, um novo membro do Supremo Tribunal Federal (STF) pode deixar para trás eventuais compromissos políticos, ficando livre inclusive para julgar contra os interesses de quem o indicou para corte.

Por isso, como um presidente que vive às turras com o STF e cujos apoiadores recorrentemente acusam os magistrados de serem uma "vergonha nacional", Jair Bolsonaro não podia correr o risco, mais uma vez, de escolher alguém que não lhe fosse leal.

Nenhum dos ministros que atualmente ocupa o STF passou por um teste de lealdade tão intenso por aqueles que os nomearam quanto André Mendonça, que, segundo afirmou Bolsonaro a aliados, será indicado para a vaga de Marco Aurélio Mello.

O indicado anterior de Bolsonaro, Kassio Nunes Marques, foi uma concessão aos parlamentares do centrão, que queriam um juiz "garantista". Ele começou desagradando, e muito, às bases bolsonaristas — ainda que, nos últimos tempos, tenha tomado decisões mais ao gosto do presidente e de seus apoiadores.

Antes de ganhar a toga, portanto, Marques não passou por teste algum.

Dos outros dez atuais integrantes da corte, oito atuavam longe das asas dos presidentes que os indicaram, ainda que em muitos casos fossem vistos como politicamente alinhados, como ocorreu com Ricardo Lewandowski, indicado por Lula.

Apenas dois, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, eram chefes da Advocacia Geral da União, exatamente a função que Mendonça exerce hoje, com status de ministros de Estado e, portanto, subordinados ao presidente.

Mas nem Mendes nem Toffoli, antes de serem nomeados, se prestaram aos papéis desempenhados por Mendonça, que no julgamento do decreto sobre a liberação de cultos religiosos na pandemia falou como se a Bíblia fosse a carta magna do país e, quando exerceu o cargo de ministro da Justiça, colocou a Polícia Federal para censurar críticos do presidente.

Ele passou no teste de lealdade e será uma grande surpresa se, ao vestir a toga, venha a assumir uma postura de independência.