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Bruno Covas fará falta na política brasileira
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O prefeito Bruno Covas foi um cara gente boa. Pai presente e dedicado, amigo engraçado e um bom gestor público. Político de berço do PSDB, não se apoiou apenas no sobrenome. Estudou direito, economia, gestão pública e sempre esteve com a escuta aberta para aprender e se aliar com pessoas experientes que pudessem lhe ajudar.
Acreditava fielmente na política e enchia a boca para dizer que era político, aliás esse sempre foi seu sonho. Quando menino deixou a cidade de Santos para ir morar com o avô Mário Covas no Palácio dos Bandeirantes e foi lá que aprendeu a arte de negociar e fazer política.
Entre outros cargos, foi deputado estadual, secretário estadual de Meio Ambiente de São Paulo, presidente do Juventude do PSDB e deputado federal. Em outubro de 2016 foi eleito vice-prefeito da cidade de São Paulo, na chapa de João Doria. Com a renúncia de Doria para se candidatar ao Estado, assumiu a prefeitura em 6 de abril de 2018.
Todos que trabalharam com ele só tinham elogios pela sua assertividade, correção, inteligência e rapidez de raciocínio. Entre os íntimos era engraçado, irônico e uma pessoa de extrema confiança. Ao ser vice de João Doria aceitou um pacote. Não concordava com muita coisa, mas sabia engolir alguns sapos para alcançar seus objetivos. Tinha paciência e sabedoria para driblar ânimos inflamados. Talvez já soubesse que receberia a cadeira de prefeito em breve. Ao assumir a prefeitura de São Paulo foi sutil nas palavras e nas mudanças, mas nos bastidores deixava claro que a gestão Covas era outra. Uma das primeiras coisas que fez foi mudar a decoração deixada por Doria que incluía um quadro de Romero Brito.
O prefeito Bruno Covas fazia questão de mostrar a sua diferença com o governador João Doria. Isso ficou evidente na campanha de 2018 quando ficou longe do slogan BolsoDoria e declarou voto nulo à presidência. Durante a pandemia foram vários embates com o governo de São Paulo. O mais recente em março deste ano quando foi alvo de crítica do governador por ter antecipado os feriados na cidade. "Aqui na prefeitura tem menos falação e mais foco no trabalho e na colaboração", disse o prefeito em nota ao se internar para mais uma sessão de quimioterapia.
No comando da prefeitura, demorou a decolar, apresentar resultados. Faltava um pouco de indignação aos enormes problemas da cidade. Foi justamente a descoberta do câncer que fez o prefeito ganhar mais popularidade e a mergulhar na prefeitura. Os resultados começaram a aparecer e sua aceitação na cidade melhorou. Mesmo diante do grande desafio de comandar a maior cidade da América Latina, a garra com que enfrentou a doença impressionava a todos que conviviam com ele. Tinha sempre um olhar de esperança e luta. Numa entrevista a mim em janeiro de 2020, disse que preferia encarar a doença com a razão e a ciência. Não deixava espaço para lamentos.
Foram 19 meses de luta contra o câncer com várias sessões de quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Segundo pessoas próximas, o prefeito fez questão de se certificar com os seus médicos que sobreviveria pelo menos mais quatro anos e, por isso, resolveu se candidatar à reeleição em 2020. O câncer, porém, foi traiçoeiro e voltou com força em fevereiro deste ano. Os últimos três meses foram muito difíceis, mas a sua luta seguia firme. Ao ser internado no início deste mês com sangramentos, o prefeito disse pela primeira vez em quase dois anos de briga contra a doença que estava muito cansado e que gostaria de desistir do tratamento. Seus últimos dias foram cercados de carinho do seu filho Tomas da família e amigos próximos.
É uma pena que num momento tão triste da política brasileira o país perca um homem tão jovem, cheio de ideias e ainda gente boa. São Paulo segue agora sob o comando de seu vice, Ricardo Nunes. Que ele faça jus a confiança que o prefeito lhe deu ao colocar ao seu lado no palanque mesmo diante de tantas dúvidas e desconfianças.
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