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Felipe Moura Brasil

REPORTAGEM

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“Máxima do STF é não punir, não deixar punir e punir quem pune”, diz Deltan

Colunista do UOL

03/02/2022 14h06

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Em entrevista exclusiva ao canal de Youtube deste colunista, o ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, disse que, em vez de "não roubar, não deixar roubar e punir quem rouba", a máxima aplicada hoje pelo Supremo Tribunal Federal é "não punir, não deixar punir e punir quem pune".

"Não punir, porque houve pelo menos 28 acusações só da Lava Jato, denúncias contra várias pessoas, e o Supremo puniu apenas duas. Uma delas morreu e acabou nem sendo punida. Não deixar punir, porque o Supremo está derrubando todas as punições das instâncias inferiores. E punir quem pune, porque existe um movimento de retaliação. Quando você vê os julgamentos, o ministro Gilmar Mendes fica esbravejando contra investigadores. É um movimento muito ruim, muito triste, no órgão que deveria ser o primeiro a atuar de modo eficiente para punir as mais altas autoridades que roubam nosso país, que traem a confiança depositada nas urnas. E o que a gente vê é exatamente o contrário: uma ala do Supremo trabalhando para produzir decisões que prestigiam a impunidade e que tornam o foro privilegiado uma blindagem dos políticos contra investigações e inquéritos criminais", disse o ex-procurador, que ainda detalhou as manobras usadas no STF para blindar Lula, Flávio Bolsonaro, tucanos e emedebistas.

Ao criticar também o procurador-geral da República, Augusto Aras, e a escolha de seu nome pelo presidente Jair Bolsonaro fora da lista tríplice, ou seja, dos três nomes eleitos por membros do Ministério Público, Dallagnol defendeu o uso da lista como garantia do "mínimo de independência, porque os pares sabem quem é quem e eles elegem as pessoas que mais representam o espírito institucional em defesa da sociedade".

"Aras nem submeteu o nome dele para a votação, porque sabia que não seria eleito. Porque ele não representa o espírito do Ministério Público de combate à corrupção, de atuação firme, doa a quem doer. Ele sempre foi advogado, nunca foi de fato um procurador da República que atuava em grandes casos. Ele não tem nenhuma atuação significativa na história. Foi escolhido a dedo e acabou com a Lava Jato. Hoje, aliás, faz um ano de aniversário do anúncio do fim da força-tarefa."

Dallagnol confirmou seu plano eleitoral para tentar reverter esse cenário de desmonte.

"Eu sou pré-candidato a deputado federal pelo Paraná e a razão pela qual eu não busco o Senado é porque eu saí do Ministério Público com o objetivo de somar, agregar, fazer a diferença dentro dessa pauta pela qual eu tenho lutado ao longo dos anos, que é o combate à corrupção. No meu estado, o candidato a senador, que hoje ocupa a vaga e vai voltar a concorrer na próxima eleição, é o Alvaro Dias. E ele vota, dentro da pauta anticorrupção, de modo muito adequado e correto. Então hoje o lugar em que a gente tem maior problema é a Câmara dos Deputados."

O foco do ex-coordenador da Lava Jato é a construção de uma bancada anticorrupção no Congresso Nacional.

"Hoje o único caminho viável para eu continuar lutando contra a corrupção é no ambiente político, porque o combate à corrupção foi desmontado. A gente não tem mais prisão em segunda instância, colaboração premiada, prisão por corrupção, porque os instrumentos foram destruídos. Então o meu foco é buscar construir um Parlamento melhor. Eu gostaria neste ano de contribuir para uma grande campanha da sociedade civil, cívica, de voto consciente e qualificado, para botar no Congresso Nacional 200, 300 deputados e senadores que tenham três características básicas: compromisso com a democracia, com o combate à corrupção - prisão em segunda instância, fim do foro privilegiado, porque as PECs estão lá, tem propostas para estabelecer isso, só que não é votado; se a gente colocar 200, a gente vira esse jogo - e, em terceiro lugar, com a preparação política."

Dallagnol quer que cada um desses candidatos faça "um curso bom e reconhecido, de mais de 100 horas, para que conheça os principais problemas do país" em áreas como educação, saúde e saneamento básico, "e quais são as principais soluções". "Quero uma pessoa que eleve o debate no Parlamento. Que coloque as bases para a nossa prosperidade econômica, a redução da desigualdade, o combate à fome e à miséria."

Para o ex-procurador, "a gente precisa de Justiça como condição para a prosperidade".

Assista à íntegra da entrevista e inscreva-se no canal.