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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Delegado irrita PF bolsonarista ao expor interferência no caso Ribeiro

Colunista do UOL

23/06/2022 20h52

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Comentei na Live UOL desta quinta-feira (23) que a tensão entre a cúpula bolsonarista da Polícia Federal e policiais independentes foi novamente confirmada, dessa vez tanto pela mensagem em que o delegado Bruno Calandrini acusa uma interferência de cima para blindar Milton Ribeiro quanto pela nota da PF anunciando a abertura de um procedimento interno para apurar aquilo que já desqualifica de antemão como "boatos".

Responsável pelo pedido de prisão do ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro, Calandrini escreveu a colegas que "a investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro", "com honrarias não existentes na lei".

Segundo o delegado, "o deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP", onde acabou dormindo, "é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial deste caso com independência e segurança institucional."

Calandrini afirmou ainda que comunicou ao seu superior a situação e que irá manter a postura "de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton a Brasília à revelia da decisão judicial" de Renato Borelli. Com isso, não foi realizada a audiência de custódia no Distrito Federal, onde o ex-ministro poderia falar algo comprometedor para o governo, que temia o depoimento.

Considerando que o desembargador Ney Bello, do TRF-1, mandou soltar Ribeiro nesta quinta, o delegado acusou, na prática, uma operação-abafa para manter o bolsonarista calado, enquanto a decisão de soltura não saía. Como o desgaste é maior quando a acusação vem de dentro da corporação, como aconteceu no caso do delegado Alexandre Saraiva, removido de suas funções após mirar o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, a cúpula da PF tentou emplacar a narrativa dos "boatos" omitindo qualquer menção a Calandrini e à reportagem da Folha sobre sua mensagem.

Já Ney Bello, como apontei no artigo "O sistema só cuida de si", tinha a preferência de Bolsonaro e o apoio de Gilmar Mendes para a indicação do presidente a uma das duas vagas abertas no STJ. Agora, aumentou ainda mais seu cacife político com Bolsonaro, que jantou na véspera com Gilmar em evento em homenagem ao ministro do STF.

Haja honrarias.

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