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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Trump representa, para o partido republicano, o maior trunfo e o pior vilão

Trump teria tentado tomar o volante e ir para o Capitólio para se juntar com os manifestantes que invadiram o Congresso americano - Getty Images
Trump teria tentado tomar o volante e ir para o Capitólio para se juntar com os manifestantes que invadiram o Congresso americano Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

07/07/2022 04h00

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Em meados de 2016, quando Trump ainda disputava as eleições presidenciais contra Hillary Clinton, especialistas norte-americanos conjecturavam sobre que tipo de líder ele se tornaria caso saísse vencedor daquele pleito. Na época, segundo Darrell M. West, por exemplo, os cenários apontavam para quatro principais perfis: o "republicano tradicional", o "trapaceiro popular", o "presidente fracassado" e o "líder autoritário".

Alguns anos depois, ainda é difícil distinguir o que exatamente significou Donald Trump. O mais provável é que ele tenha sido uma combinação de várias dessas possibilidades. Como presidente, apegou-se, de forma seletiva, a algumas agendas caras aos republicanos tradicionais, embora, na maior parte do tempo, tenha se orientado por discursos e ações populistas, permeadas de contradições com os valores do partido, e por arbitrariedades típicas de figuras autoritárias.

Em vários momentos, viu suas promessas serem refreadas pelas instituições e, ao perder a reeleição contestando resultados sem apresentar provas de fraude, entrou para a história como um mau perdedor, criticado, inclusive, pelos próprios correligionários.

Mas engana-se quem pensa que classificar Trump é o bastante para entender o que sua força política significa. Trata-se de uma vertente complexa e em ascensão, nos Estados Unidos, mesmo agora que Trump não é mais o presidente. Essa visão de mundo contesta as elites, inclusive do próprio partido republicano, resgata o conservadorismo radical e fagocita a ala mais liberal do GOP. Ela promove um olhar nativista sobre os Estados Unidos e repousa sobre o protecionismo, a desglobalização e uma série de ressentimentos ligados a mudança de demografia no país.

Fato é que os republicanos criaram para si seu próprio algoz. Trump representa sua melhor chance de voltar à Casa Branca, em 2024, mas, ao mesmo tempo, é visto como o principal responsável por descaracterizar o partido e comprometer suas próprias tradições.

A realidade é que:

1) desde Barry Goldwater os republicanos fizeram promessas que não puderam cumprir. Por décadas disseram que iriam diminuir o tamanho do Estado e que encontrariam meios de acomodar as demandas no campo da imigração, por exemplo, mas essas agendas que nunca foram efetivamente levadas a cabo.

2) o GOP dependeu, por anos, do voto de brancos trabalhadores sem diploma e não foi capaz de retribuir essa lealdade em forma de benefícios concretos. Trata-se de uma população que empobreceu e perdeu qualidade de vida com o passar do tempo.

3) os Estados Unidos estão se tornando, pouco a pouco, um país cada vez mais propenso a extremismos, no qual tende a vencer disputas quem consegue sensibilizar paixões e mover os descontentes e marginalizados, como é o caso de Trump. Há, por lá, um profundo sentimento "antissistema" que precisa ser analisado de perto e compreendido em sua complexidade

Está claro que o trumpismo não depende mais de Trump. Ele tem raízes nas profundas assimetrias e desigualdades dos Estados Unidos. É exatamente por isso que se torna cada vez mais urgente falarmos sobre representatividade, diversidade e inclusão no século XXI.