Flávio VM Costa

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Reportagem

Suspeito de traficar armas tinha revólver de general do caso Rubens Paiva

Um revólver banhado a ouro que pertenceu a um general do Exército citado no caso Rubens Paiva foi encontrado por policiais civis no cofre da casa de um homem preso por suspeita de tráfico de armas no interior de São Paulo.

O general Carlos Alberto Cabral Ribeiro é um dos 377 agentes do Estado responsáveis por violações de direitos humanos durante a ditadura militar, de acordo com o relatório final da Comissão da Verdade. Ele morreu aos 69 anos, em 1984, quando era ministro do STM (Superior Tribunal Militar).

Cabral Ribeiro participou da operação de acobertamento da prisão de Eunice Paiva, mulher do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e assassinado por militares. A história de Eunice e sua família foi contada no filme "Ainda Estou Aqui", vencedor do Oscar de Melhor Produção Internacional (leia mais abaixo).

Em 1968, Cabral Ribeiro chefiava a 1ª Infantaria Divisionária e Guarnição de Niterói/São Gonçalo quando foi homenageado por policiais fluminenses — na época, a cidade do Rio formava o estado da Guanabara, e Niterói era a capital do estado do Rio de Janeiro.

O general recebeu de presente um revólver da marca Rossi, calibre 22, banhado a ouro com a seguinte inscrição: "Ao Gal. Carlos Alberto Cabral Ribeiro, Lembrança da Polícia Fluminense, Niterói, 1968".

Pouco mais de 56 anos depois, a arma foi encontrada durante uma operação policial em um cofre de um comerciante suspeito de traficar armas, em São José dos Campos, interior paulista.

Alan dos Santos Germano, de 47 anos, foi preso em flagrante, na terça-feira da semana passada (11). A Polícia Civil paulista investiga se ele fornecia armamento para traficantes de drogas da região.

"Na verdade, [o revólver] não era alvo de nossas investigações. Mas chamou a atenção pois junto com esse revolver tinha um armamento de potencial lesivo grande e como a arma mostrava ser de Niterói, o fuzil também pode ter vindo do Rio de Janeiro", afirmou o delegado Régis Germano (sem grau de parentesco com o suspeito), responsável pela investigação.

O suspeito guardava também em casa um fuzil automático, calibre .556, equipado com seletor de rajada, cuja venda é proibida no país, uma carabina ponto 40, com numeração raspada e duas pistolas calibre 9 mm. Ele também estava de posse de cerca de 250 munições de vários calibres.

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Armas e munições encontradas por policiais civis na casa de Alan dos Santos Germano, em 11 de março de 2025, em São José dos Campos
Armas e munições encontradas por policiais civis na casa de Alan dos Santos Germano, em 11 de março de 2025, em São José dos Campos Imagem: Divulgação/Polícia Civil de São Paulo

Em depoimento à polícia, Germano afirmou que tem "fascínio por armas". De acordo com a Polícia Civil, ele afirmou ser CAC (sigla para Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador).

"Ele alegou que é apaixonado por armas e comprou esses armamentos. Mas, quanto a procedência quedou-se inerte", afirmou o delegado.

Ainda de acordo com o relatório policial, ele confessou que vendeu armas para moradores da cidade de Jambeiro. A Justiça converteu sua prisão em preventiva.

Todas as armas encontradas passarão por perícia.

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O delegado Régis Germano afirmou que a polícia investiga como as armas foram parar nas mãos do comerciante.

Ofício sobre Eunice Paiva

O general Carlos Alberto Cabral Ribeiro era chefe do Estado-Maior do 1º Exército quando assinou um ofício datado de "fevereiro de 1971" no qual afirmava que Eunice Paiva, mulher do ex-deputado Rubens Paiva, não estava nas dependências do DOI-CODI (principal órgão de combate aos opositores do regime militar), no Rio de Janeiro.

Eunice passaria presa 12 dias nas dependências do centro de repressão da ditadura militar, sendo libertada às 18h30 de 2 fevereiro daquele ano — o que contradiz o ofício. Sua filha Eliana passaria 24 horas presa no mesmo local.

Já o ex-deputado Rubens Paiva foi preso antes da mulher e da filha, no dia 20 de janeiro. Ele foi torturado e assassinado por militares no Rio de Janeiro. Seu corpo até hoje não foi encontrado.

Cabral Ribeiro era o comandante da 7ª Região Militar em 1973, com sede no Recife. Em 8 de janeiro daquele ano, seis militantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) foram assassinados por agentes da ditadura, por meio da colaboração direta de Cabo Anselmo, o mais famoso agente duplo da ditadura. O caso ficou conhecido como o massacre da Granja de São Bento.

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*Colaborou Jeniffer Mendonça, de São Paulo

Reportagem

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