Papa Francisco promoveu mudanças contra abuso sexual na Igreja Católica

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Uma das características mais marcantes do papado de Francisco, morto hoje aos 88 anos em Roma, foi seu enfrentamento à crise de credibilidade na Igreja Católica provocada pelos inúmeros casos de abuso sexual de crianças e adolescentes cometidos por padres e bispos ao redor do mundo.
Essa postura o colocou em posição diametralmente oposta aos seus antecessores, especialmente Bento 16, que chegou a ser apontado como omisso em relação ao tema e, posteriormente, reconheceu em público erros no tratamento da questão.
O papa Francisco nem sempre acertou quando tratou do tema. Um exemplo conhecido, considerado por ele mesmo como o ponto mais baixo de sua liderança, foi a vez em que minimizou denúncias de acobertamento de abusos cometidos no Chile, durante uma visita ao país em 2018.
Porém, no geral, ele fez declarações públicas duras contra os pedófilos de batina e, no plano prático, implementou mudanças internas na igreja.
"Por favor, lembrem-se bem disto: tolerância zero com os abusos contra menores ou pessoas vulneráveis. Tolerância zero. Nós somos religiosos, somos sacerdotes para levar as pessoas a Jesus. Por favor, não escondam esta realidade", declarou em 2022, durante uma visita de uma comitiva brasileira.
Revisão ampla da lei contra abuso sexual
Jorge Bergoglio promoveu, em junho de 2021, a revisão mais abrangente da lei da Igreja Católica em quatro décadas, endurecendo regulamentos para clérigos que abusam de menores de idade e adultos vulneráveis.
Ele também estendeu o alcance da legislação para líderes leigos católicos de organizações religiosas aprovadas pelo Vaticano.
A nova lei também responsabiliza de maneira mais enfática religiosos que se omitissem diante de tais situações.
Dois anos antes, o papa eliminou a regra de "sigilo pontifício", usada até então para manter investigações em segredo. Na prática, a mudança permitiu que a membros da igreja enviassem para autoridades civis documentos e materiais relacionados a suspeitas de abusos sexuais em todos os lugares onde atua.
"O abuso, em todas as suas formas, é inaceitável. O abuso sexual de crianças é particularmente grave porque ofende a vida em seu florescimento. Em vez de florescer, a pessoa abusada é ferida, às vezes de forma indelével", pronunciou o papa, em certa ocasião.
Mesmo que não tenha chegado a estabelecer o nível de transparência exigido por alguns críticos, as ações de Francisco marcam um avanço em uma instituição religiosa que tinha optado até então por esconder os casos de abusos sexuais, seja negligenciando o atendimento às vítimas, ou mesmo protegendo os abusadores.
Ele chegou a agradecer a jornalistas por ajudarem a revelar os escândalos de crimes sexuais dentro do catolicismo.
"Agradeço vocês pelo que nos dizem sobre o que está errado na Igreja, por nos ajudar a não esconder isso embaixo do tapete, e pela voz que vocês deram às vítimas de abuso."
O pontífice afirmava que a crise "nos chama a uma purificação humilde e constante, partindo do grito angustiado das vítimas, que devem ser sempre acolhidas e ouvidas".
Em visita à Bélgica, em setembro do ano passado, em um de seus últimos pronunciamentos sobre o tema, o papa Francisco afirmou que a Igreja Católica deveria pedir perdão por abusos sexuais a menores de idade.
Como a Igreja Católica e o próximo papa vão lidar com a questão é uma das principais incógnitas que se apresentam após a morte de Jorge Bergoglio.
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